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A relação é a natureza do ser

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Todos os seres são relações entre outros seres e estes também o são, logo não podemos falar de um ser em si ou, separado de todo este processo, pois cada um implica outros níveis e as realidades relacionais que estes levantam.

As relações são apenas dinâmicas no espaço que se combinam em novas dinâmicas. É isto que somos, ou seja, toda essa história evolutiva de relações universais, a ser continuamente recriada nos diferentes níveis do espaço e mobilizada nos modos como nos relacionamos.

 
Cada “coisa” tem um sentido que depende do modo como nos relacionamos com ela. Logo, conforme nos damos conta de alguns aspetos que estruturam a relação, ela pode evoluir, permitindo-nos entender a “coisa” de um modo diferente.

Em termos conscientes a relação continua a ser a nossa natureza e não podemos sair desta realidade, mas apenas regulá-la. Considerar-me fora da relação é apenas um modo de relacionar que não se apercebe da sua particularidade. Quando nos damos conta do que está a acontecer na relação, ela evolui, assim como o sentido consciente do momento. O dar conta é uma espécie de reflexão de certas caraterísticas num espelho que leva a uma regulação espontânea da relação e da construção do sentido.
 
Assim, diríamos que a relação é um processo reflexivo/criativo espontâneo, que permite todo o tipo de adaptações. Se estiver a apertar um parafuso com a chave errada ou a pegar mal na certa, com força a mais, distraído, irritado, sem experiência, etc. a relação não é apropriada mas, dando-me conta dessas particularidades, rapidamente se adapta. As pequenas adaptações comuns implicam mudanças no sentido e no comportamento que levam a mudanças momentâneas nos múltiplos níveis que nos constituem e outras mais perenes ligadas ao conhecimento das realidades tal como são, há confiança, etc.

 

O processo reflexivo/criativo tem sempre a natureza do insight, pois mostra certas caraterísticas da relação, tal como são, e gera uma resposta. A diferença entre os vários modos, com mais ou menos sabedoria ou ignorância, deriva dos filtros "estabelecidos" no espelho que faz a reflexão. O espelho é a nossa natureza subtil que reflete tudo na sua perfeita integração, gerando o que poderíamos apelidar de valores da vida: a liberdade, a felicidade, o amor, a criatividade, etc. Nas diferentes situações relacionais há estruturas com muitas causalidades, origens e interdependências que “filtram” a reflexão e determinam as condições mais ou menos inconscientes da relação: estruturas ancestrais, “instintivas”, práticas, traumáticas, familiares, locais, etc.

Estamos sempre a valorizar o momento presente com um espelho mais ou menos filtrado por inúmeras condições, logo a reflexão ou, o dar conta, deriva das mesmas e a resposta também. Mas o processo está a mostrar as caraterísticas da relação, tal como são nesse nível causal, nós é que podemos não conseguir dar-nos conta disso e evitar o envolvimento que as recria.

 

Ao treinarmos a reflexão sobre os valores da vida, damo-nos conta de muitas dessas condições e elas evoluem, em dependência do tipo de treino, revelando-nos outros níveis causais e os seus sentidos. No entanto, os resultados podem levar-nos a tornar habituais certos modos de dar conta, sistematizando o processo dentro dessas condições estruturais, que não permitem aperceber as precedentes. Há muitas estruturas subtis a intervirem nos momentos que, como fazem parte da definição instantânea da nossa identidade, dificilmente são apercebidas ou então são-no de um modo enviesado. Mas o aspeto mais importante é a natureza dualística destas estruturas.

Nós relacionamo-nos e entendemos tudo a partir de diferenças ou dualidades, e o estar na dualidade suscita complexidades que importa introduzir. Os polos opostos de uma dualidade não significam por si, nem são separáveis, mas existem numa reciprocidade, logo definem-se de forma interdependente.

Quando nos focamos e definimos um lado, dentro das condições de um dado modo relacional, estamos, reciprocamente, a mobilizar e a definir o oposto nas mesmas condições. Se não tivermos consciência desta interdependência tendemos a ver apenas o lado que focámos, sem podermos aperceber-nos de que o seu significado é parcial e depende das caraterísticas desse modo de relacionar, ou seja, estamos na dualização, sem conseguir ver as condições relacionais, logo elas não evoluem e geramos uma estrutura rígida dualística que vai ser um filtro. Inversamente, se tivermos presente esta interdependência, apercebemo-nos do que está a acontecer a ambos os lados que, no fundo, refletem a particularidade do modo relacional, logo damo-nos conta do mesmo e este evolui; estamos no caminho do insight da não dualidade, a resolver a história dos filtros.

 

Assim, a inferência conclusiva que abre ao insight é: no entendimento apropriado da dualidade estamos no caminho da resolução não dualista.

  

No entanto, como as nossas estruturas têm muitas correlações causais, mesmo dando-nos conta da particularidade relativa do que surge, esta pode não se resolver facilmente, pois há causas dualistas precedentes que inconscientemente estamos a reativar e, se não tivermos cuidado, podemos amplificar e gerar várias complexidades no ciclo reflexivo/criativo da relação.

 

O modo mais complexo de estar na dualidade passa pelo que chamaríamos de prisão no oposto. Os polos das dualidades são interdependentes, por isso, estamos sempre a agir em ambos, mas as dualidades também são interdependentes entre si, logo quando estamos a focar-nos num lado, a relação pode estar a ficar presa no oposto e a mobilizar as outras dualidades a partir dele.

 

Por exemplo: se assumirmos um sentido dualista da liberdade (individualista ou que esquece o outro) podemos não dar conta de que nesse modo da liberdade vamos oprimir alguém e concretizar o oposto; o mesmo para a pureza, a verdade, a bondade, etc., pois, se as considerarmos separadas dos seus opostos, quando as tentarmos concretizar, estaremos a atualizar a impureza, a ilusão e o mal que a separação gera. Portanto, no que um modo relacional contém de separação, está a definir os polos de uma forma dualista e a deixar de dar conta disso, ou seja, a fixar o sentido e a considerar a contingência do momento como a verdade inerente da coisa; inversamente, no que o modo de relação permitir uma aproximação e troca igualitária entre os opostos, estará a dar-se conta da sua particularidade, em evolução criativa e a realizar a não dualidade do momento que mobiliza todos os níveis do real ou, a relação, e resolve o agora.

 

O ciclo reflexivo/criativo é simples, mas difícil de ser aprofundado, dada a interdependência dualística entre os vários níveis e a dificuldade de nos darmos conta das suas subtilezas. Este é talvez o fator que mais determinou as dificuldades históricas da humanidade e a sua prisão em todas as desumanidades, mas também fomentou o amor pela sabedoria em todas as áreas, a arte de lidar com os opostos, ou seja, a descoberta da relação não dualística como meio para as resolver.

 

Na realidade, os valores da vida são a não dualidade da liberdade, da felicidade, do amor, da criação e, de tudo ou, o espelho em si, que mostra a convencionalidade de cada estrutura dualística e a pode integrar na sua perfeita sabedoria.

 

Tendo em conta tudo isto, é difícil falar linearmente do insight sem potencialmente fomentar aquilo que o bloqueia, mas, diríamos que, o treino relativamente não dualista dos valores da vida gera modos relacionais onde passamos por vários níveis condicionantes, podendo vê-los tal como são e vivenciar a sua integração sábia.

Esta transformação relacional tem efeitos profundos e perenes nas ordens que nos constituem, levando os filtros a serem gradual e naturalmente expressos, segundo a ordem causal que estabelece a sua interdependência, o que aprofunda este processo e pode despoletar uma dinâmica final, espontânea e ininterrupta, do insight no espelho límpido da nossa natureza, ou dinâmica relacional da iluminação, onde todas as estruturações (nossas, dos outros e do real) são levadas à não dualidade para se refletirem e expressarem tal como são, na sua particularidade convencional, revelando o seu sentido último, ou seja, integrando-se perfeitamente na sabedoria da vida e passando a atuar desse modo na resolução universal que esta realiza.

Este é um modo de conceber o insight enquanto uma resolução que vai das condições mais grosseiras para as mais subtis, mas o processo pode começar por abordar condições subtis, digamos que intermédias, e só nas etapas finais abordar as mais subtis (como o sentido da sobrevivência), que estão por detrás das mais grosseiras.

  

O Insight Biológico

De forma introdutória e muito sucinta, vamos agora refletir sobre um conjunto de tópicos que apontam para os vários sentidos do insight biológico.

A evolução universal é um processo de insight

Como vimos, os seres orgânicos e inorgânicos são gerados por relações entre outros seres, eles próprios relações entre outros seres, etc., todas elas apenas dinâmicas particulares no espaço, que resolvem uma interdependência causal de dinâmicas anteriores e geram outras. Portanto, o ser é o vazio do espaço a ordenar-se em múltiplos níveis destas respostas dinâmicas.

 

A avaliação de todos os níveis existenciais que constituem os seres vai até um ponto infinitesimal dos tamanhos, onde deixamos de poder identificar seres ou relações particulares e apenas temos um vazio que, em todas as avaliações, nos leva a pensar de forma perfeitamente não dualista, ou seja, com os opostos completamente unidos ou a trocarem-se. É a zona poética da criação universal, onde tudo e o seu oposto coexistem simultaneamente, logo está para além da nossa capacidade de conceber e é o refletir/criar em si. É um vazio do qual surgem todas as relações geradoras dos seres, em vários níveis de complexidade.

 

Simplificando algo que será explicado nos posts do blog ou no livro, podemos assumir que esse vazio (ou campo base, onda de fundo, etc.) é a fonte das relações, geradas num processo reflexivo/criativo muito subtil, enquanto respostas às situações criadas anteriormente.

O processo relacional que gera os seres é por isso evolutivo, pois cria relações em determinados contextos (ou condições relacionais) e reflete essas criações, digamos que, no seu espelho universal da perfeita integração, para gerar outras e novos seres, num percurso que vai passar pelas partículas elementares, os átomos, as moléculas, a vida e o consciente.

A reflexão/criação depende dos contextos gerados pelas criações anteriores, por isso, só em alguns é que o potencial do vazio se pode expressar de forma mais plena. No contexto inicial do universo geraram-se as partículas elementares, as suas forças e os primeiros átomos. A sequência de átomos que estruturam a tabela periódica só surgiu nos núcleos das estrelas e, em contextos mais amenos, os átomos puderam começar a expressar as dimensões relacionais das moléculas, mas só em contextos muito especiais é que estas podem entrar na articulação coemergente que concretiza o modelo da vida.

 

Todos os seres são resoluções não dualísticas de relações. Os elementares, são não dualidades das dinâmicas universais que os constituem, gerando ordens simples, cuja particularidade ou diferença é oposta ou complementar, por isso, no seu conjunto, expressam já o modelo da resolução não dualista seguinte ou novo ser: o protão, o eletrão e o neutrão que se vão integrar e gerar o átomo. Nas estrelas, os núcleos dos átomos vão ser criados dentro de uma lógica harmónica de diferenças, que vai permitir as integrações não dualistas das moléculas, cujas particularidades podem gerar inúmeras ordens mais complexas.

Os seres elementares são resoluções interdependentes que derivam do contexto inicial, em particular da forte ligação entre o todo e a parte. São ordens geradas por relações universais e tendem a ser fixas, pois não se transformam em outras pela dinâmica reflexiva/criativa do campo base, mas têm caraterísticas não dualistas extraordinárias, dado que são ondas universais subtis que contêm ordens e estão em fase com essa dinâmica, gerando a sabedoria relacional (ondulatória) do plano quântico.

Aqui levanta-se um aspeto chave para entendermos o que leva as condições contextuais a serem potenciadoras da eclosão de outros níveis relacionais. Trata-se de algo que a física constatou no início da investigação do plano quântico e continua a ser um problema: o dito colapso da onda subtil. Ao avaliarmos o mapa dos tamanhos do espaço, de baixo para cima, do vazio para os vários níveis onde se geram as ordens dos diferentes seres, parece haver uma perda desta natureza ondulatória e, por isso, uma desconexão com as valências da onda relacional do vazio e o seu processo reflexivo/criativo. 

Nos seres mais complexos as ordens elementares fixam-se de uma forma que parece colapsar a onda, tornando-a incoerente e tendencialmente inerte. Assume-se um colapso caótico generalizado da onda relacional, que continua a ser relativamente inexplicável, mas implica que as ordens se concretizam de forma particular (como partículas) e interagem de forma aleatória, logo, os modos relacionais que constituem os seres, surgem apenas das forças ligadas a essas ordens, dos contextos e do acaso, não dependendo em nada da sabedoria harmónica das ondas, o que justifica as suas caraterísticas clássicas (dualistas), enquanto partículas separadas, assim como anula o sentido de um processo criativo universal, afirmando a sua natureza aleatória, o que satisfaz a epistemologia reducionista e mecanicista da ciência.

Isto é obviamente uma simplificação adequada a esta introdução, mas não viola a interpretação científica. Realmente, em certas condições experimentais e naturais, a subtileza dessa onda pode ser colapsada de um modo caótico mas (como veremos, futuro post), mesmo aí, isso não implica que a onda deixou de existir ou se tornou inerte. Certas experiências provam que a onda existe sempre e se expressa em dependência do contexto e suas evoluções. A eclosão interativa dos seres complexos é mais ou menos harmónica, é um tipo de colapso harmónico que pode assumir muitas possibilidades, gerando paradigmas virtuais que condicionam a ordem interna e o contexto a um tipo de relação com as ondas, logo os modos do colapso relacional com os outros seres. 

A onda subtil de ligação ao todo é parcialmente colapsada em paradigmas locais, mais ou menos harmónicos, que geram os seres e os seus contextos, por isso, a dinâmica reflexiva/criativa manifesta-se de forma limitada face ao potencial da onda do campo base. Isto é perfeitamente natural pois, tal como os seres elementares são resoluções fixas ou muito resistentes, também os mais complexos têm os seus paradigmas de integração harmónica, que condicionam de forma determinante a influência do potencial reflexivo/criativo da onda de fundo. 

Assim, diríamos que as ondas dos seres coexistem e a ligação à base continua a gerar respostas evolutivas, a partir do reflexo dado pelo conjunto dos paradigmas virtuais desses seres. Conforme as interações levam a pequenas mudanças nos diferentes paradigmas, estas respostas podem manifestar-se muito gradualmente e favorecer outras evoluções. O processo reflexivo/criativo continua a existir, mas só pode manifestar certas valências relacionais e muito dificilmente entra na dinâmica que leva à vida.

Com este ponto de vista podemos entender as dificuldades de eclosão do modelo da vida, face aos paradigmas do colapso das realidades inorgânicas e seus condicionamentos das condições contextuais. 

No entanto, o colapso harmónico da água liga-a à onda do vazio de um modo muito especial, tornando-a uma espécie de útero, onde os outros seres vão ser levados a uma troca reflexiva/criativa que pode atualizar o canal da vida. Isto é muito difícil de acontecer, dado o efeito dos colapsos contextuais sobre o da água, logo é preciso haver uma interdependência de condições, digamos que milagrosa, e processos globais de abertura harmónica do espaço que permitam uma expressão local da onda relacional mais subtil e o caminho de coemergência dos modelos orgânicos. 

Do mesmo modo podemos entender as dificuldades existenciais e evolutivas dos seres vivos, que são a manifestação da ordem subtil, mas surgem no meio dos modos de colapso das criações anteriores e seus contextos interativos. A vida é uma eclosão local das valências reflexivas/criativas do vazio, que fica sensibilizada pelos modos de colapso do mundo e dos outros seres e se estrutura em diferentes tipos de respostas para se igualar a essas condições. As respostas estruturais e comportamentais são colapsos harmónicos particulares mais ou menos dualistas, face ao potencial reflexivo/criativo da natureza fundamental da vida, o que a torna uma grande operação de gestão, sábia e integrada, dos vários níveis de colapso harmónico que estruturam o seu canal.

O canal do colapso harmónico da vida tem muitos níveis, sabiamente integrados no mais subtil, da integração total ou perfeita não dualidade, que mantém a vida através dos múltiplos ciclos não dualísticos do organismo. Os estruturais respondem a dualidades nas formas, substâncias e articulações, sendo dualistas por definirem limites e modos condicionados de relação. Os mais dualistas prendem-se com a fragilidade da vida e os caminhos evolutivos ancestrais, das marcas/respostas, que desenvolveram os sistemas de defesa e ataque. Estes têm de ser muito bem geridos para os seus colapsos não afetarem a estruturação e a dinâmica integradora de todo o canal da vida, ou seja, a identidade do organismo não ser dominada por essas lógicas, que obviamente seriam prisões no oposto, da capacidade adaptativa e relacional.

 

Assim, podemos dizer que a vida se estrutura num diferencial existencial, entre os níveis da integração total e os que estabelecem dualidades relacionais ou são mesmo dualísticos e, por isso, ao determinarem certos tipos de colapsos, geram limitações ao seu potencial reflexivo/criativo.

O diferencial existencial foi-se transformando e tornando mais ou menos complexo, à medida que os diferentes caminhos da evolução das espécies ultrapassaram múltiplos desafios e acabaram por penetrar a terra e ocupar todos os nichos. Os modos da evolução se expressar são muito diversificados, particulares à linha histórica e aos contextos de surgimento, mas esta parece ser um processo reflexivo/criativo que responde aos desafios, como que numa meditação muito gradual, onde se dá conta das estruturações anteriores, refletindo-as na sabedoria do espelho da integração total, para reconstruir as respostas, os seres e abrir às novas classes de seres, que podem expressar melhor o potencial da sua natureza subtil, por isso, diríamos que a evolução está a resolver o diferencial existencial.

 

As ondas subtis, na sua ligação ao vazio, estão a refletir as dificuldades de todos e a gerar respostas particulares, integradas no sentido desta resolução existencial, que eclodem gradualmente em alguns e vão concretizando esse caminho.

A vida está a completar o insight universal

O processo reflexivo/criativo da meditação universal parece seguir uma lei ou “propósito” que é o de trazer o potencial relacional do campo criador mais subtil aos vários níveis da criação. A vida é a eclosão local desse campo e, por isso, dessa lei, que humanamente diríamos ser da compaixão, pois traz o modelo mais subtil à totalidade do espaço onde surge, e assume os colapsos, gerados pelas condições e criações anteriores à vida, nas respostas estruturantes do seu canal, que os estão a resolver parcialmente, mas vão evoluindo, numa meditação, onde se refletem na natureza última para aprofundarem a resolução dos desafios locais e, simultaneamente, estarem a gerar o caminho para essa natureza se poder expressar melhor nos vários níveis do seu colapso harmónico, logo, muito lentamente, a vida está a resolver o diferencial existencial e a completar a meditação universal. Ou seja, a evolução dos seres vivos vai resolvendo as limitações geradas pelos colapsos exteriores e, gradualmente, está a trazer a sabedoria do campo base aos diferentes níveis do colapso harmónico do ser vivo e, com isso, ao seu contexto.

Este insight biológico vai-se dando nas estruturas condicionantes intermédias e só nas etapas finais é que pode resolver as mais subtis (ligadas à sobrevivência) e, com isso, as causas das mais grosseiras ou mais dualísticas. 

Todos os seres vivos, do unicelular ao organismo mais complexo, são um interface eu/mundo, que se define nos diferentes níveis do canal da vida. Enquanto vivos, são já a sabedoria reflexiva/criativa da onda subtil, a não dualidade da consciência, o sentir vazio da integração total, do qual surgem todas as respostas e intuições, ou o sexto sentido dos animais que afinal é o primeiro e o único dos vegetais. Os seres já estão perante ou, a “sentir”, tudo no mundo, assim como face às respostas finais, mas esta consciência vazia e virtual concretiza-se de forma particular e parcial nos caminhos ligados aos níveis de colapso harmónico do canal da vida, ou seja, na estruturação particular dos aparatos e na sabedoria dos seus modos relacionais. 

Focando-nos nos animais, diríamos que, todos existem na experiência desta sabedoria integradora, dos níveis do seu colapso harmónico particular, como um devir qualitativo dos modos relacionais e suas transições, ou seja, na experiência dos ciclos de ativação e retorno, de interpretação/resposta e integração vegetativa, que se mobilizam nos caminhos históricos da vontade da vida, a resolver o presente, e são sempre um insight, uma descoberta, no sentido em que são dados espontaneamente pela sua natureza como dons e soluções particulares.

 

Este devir da experiência é o consciente, que se torna mais expressivo nos animais e começa por não implicar capacidades autorreflexivas ou modos autoconscientes muito salientes, variando dentro das estruturações particulares das espécies e seus modos de colapso relacional, mas expressa muitos aspetos comuns, nomeadamente nos níveis mais subtis, da paz vegetativa e sensibilidade às dinâmicas qualitativas a ocorrerem no espaço contextual ou, da energia vibrante do estar vivo e sua distribuição sábia pelos modos particulares, assim como nos mais dualistas da deteção do perigo e ativação dos modos de defesa/ataque. 

Os animais alimentam-se dos outros, o que leva às posições existenciais base, do caçador/presa, e a toda a saliência das componentes de defesa e ataque nas várias dimensões da vida, logo são fortemente determinados pelos níveis mais dualistas do canal. Por outro lado, como têm de se mover, uma parte do interface está muito ligado à ação e à entrada em fase com um conjunto de dimensões existenciais exteriores, o que implica uma abertura sensível ao outro e à contingência, uma adaptação contínua dos diferentes sistemas e uma gestão cuidada dos modos de colapso ligados às respostas. O animal vive muito nessa zona do interface, onde se expressa uma contínua interfusão sensível e, de certa forma, tem o mundo dentro de si, o que, em termos subtis, vai além do sentido comum da representação e quer dizer que o tornou vivo, recriou-o nas leis da biologia, e isso já é uma parte da realização do propósito universal.

Os sistemas nervosos surgem como aparatos reflexivos/criativos desta zona do interface e sua ligação a todos os níveis do ser vivo. Começam por ser muito simples e dominados pelos níveis de colapso adaptativo mais dualista e sua mobilização da ordem vegetativa, ou seja, da integração subtil do ser. No entanto, desde sempre evoluíram, foram estruturados, orientados e dinamizados a partir das premissas, valorizações e ciclos desses níveis não dualísticos. Neste sentido, diríamos que o sistema nervoso recria o canal da vida e a sabedoria integradora dos seus níveis de colapso, dinamizando-se em dependência dos ciclos orgânicos não dualistas e no sentido dos seus equilíbrios fundamentais ou criativos, na sincronização diária, anual e das etapas da vida, mas atua de forma muito direta na zona sensível da interfusão com os diferenciais do mundo, logo de ativação das estruturas das marcas/respostas mais dualistas.

A experiência consciente dos modos relacionais e de todo o processo no canal da vida começa por ser mais automática, porque o sistema nervoso, na sua estruturação reflexiva inicial, gera uma metáfora simplificada desse canal com uma certa dominância grosseira ou subtil dos colapsos dualistas. Daí que o animal viva diretamente nas transições relacionais, e os processos do sentir, refletir, conceber e escolher, a ocorrerem continuamente a partir da sabedoria dos diferentes níveis do canal da vida, tenham uma expressão consciente limitada, o mesmo acontecendo para os conteúdos perceptivos, sensitivos, emocionais e vegetativos.

De forma muito simplificada diríamos que os sistemas nervosos (dos vertebrados) vão evoluir a partir de uma estrutura base, onde se recria o interface eu/mundo, cujas áreas ligadas à integração vegetativa e, à total, estarão a assegurar os valores da vida ao longo da transformação estrutural e reflexiva do conjunto.

 

As diferentes áreas (percetivas, emocionais, motoras, etc.) vão crescer e desenvolver funções reflexivas mais evoluídas, à medida que se interconectam e dinamizam numa interdependência mais complexa, tornando o sistema numa crescente circulação autorreflexiva dos seus conteúdos e processos. Certas áreas vão expandir-se e gerar uma nova zona, onde todos os caminhos confluem e entram numa reflexividade matricial, em áreas específicas e de crescente associação, permitindo destacar conteúdos e abordá-los em diferentes sentidos. Os modos relacionais desta reflexividade são modulados pelas áreas dos valores da vida e, as suas resoluções, ao serem projetadas no resto do sistema, como que regulam as premissas estruturais dos diferentes colapsos, abrindo-o a uma contínua transformação.

 

A evolução do sistema nervoso parece dar-se num processo reflexivo/criativo que é regulado pelos valores da vida, onde os modos de colapso, ligados às diferentes áreas, se vão relativizando e abrindo a uma reflexividade mais interdependente entre os diferentes conteúdos, que vai atualizando esses valores de forma mais plena na experiência do ser. 

 

Ao longo da evolução das espécies animais e, nomeadamente no surgimento das novas classes (os anfíbios, repteis, aves e mamíferos) que progridem nos modos de resolver os desafios da vida em terra, o sistema nervoso foi-se transformando e desenvolvendo uma dinâmica reflexiva interna que expressa melhor as valências reflexivas/criativas na base do canal da vida. Portanto, neste sentido, a evolução do sistema nervoso é um processo de insight que, muito gradualmente, vai resolvendo o diferencial existencial e realizando o propósito da meditação universal.

 

A abertura das estruturas dualistas ancestrais, a uma ativação mais reflexiva, é uma relativização coerente com os valores da vida, que começa a transformar os seus modos de colapso e a influência dos mesmos sobre a totalidade do ser vivo. A experiência consciente vai-se tornando menos automática, na vivência dos modos relacionais e nas transições entre os mesmos. A sabedoria reflexiva subtil, por detrás da integração dos modos e das transições, está agora a expressar-se diretamente na experiência, e estes modos coexistem numa ativação gradativa, como que contribuindo simultaneamente com as suas valências e lógicas para um estar relacional consciente que não é tão dominado pelos colapsos particulares, mas sente o presente a partir de todos os contributos, e pode estar numa adaptação criativa contínua, com essa presença reflexiva, mesmo quando entra nas concentrações que ativam os modos mais dualistas.  

 

A sabedoria por detrás dos percursos mais automáticos e da expressão limitada dos conteúdos pode manifestar-se mais diretamente, e a experiência passa a ser mais preenchida pelas dinâmicas reflexivas subtis e expressa os conteúdos perceptivos, emocionais, conceptuais e vegetativos. O canal da vida está a expressar-se melhor no consciente, que se torna um dar conta com os conteúdos do mundo e do eu, numa interfusão sentida e gerida continuamente de forma reflexiva/criativa.

 

A vida parece estar a fazer uma meditação, onde as suas estruturações se abrem a uma relativização biológica que as integra melhor na dinâmica reflexiva/criativa dos seus valores e permite uma experiência mais plena dos mesmos. Isto é muito evidente nas aves e sobretudo nos mamíferos, que relativizaram parcialmente o automatismo dos colapsos relacionais, na sabedoria reflexiva da biologia, e podem viver mais plenamente os valores da vida. Esta meditação relativizadora, que abre à vivência dos valores e à adaptabilidade criativa contínua, começa pela possibilidade dos modos relacionais da família, onde os filhos nascem com uma concretização mais juvenil das suas estruturações e, durante um tempo, estão a viver com as soluções e o amor que os pais ou a mãe lhes dão, enquanto as vão treinando. E, inversamente, os pais ou a mãe abrem as suas estruturas mais rígidas a essa jovialidade.

Nos mamíferos, a concretização progressiva dos modos relacionais dá-se muitas vezes de forma lúdica, através das brincadeiras que simulam os colapsos dualistas e os estruturam numa reflexividade mais aberta a todas as possibilidades. A própria evolução dos mamíferos parece dar-se dentro de uma reflexividade semelhante, onde a biologia tende a retardar a concretização das caraterísticas dos antepassados, para que esta se mantenha em fase com a sabedoria subtil e gere numa combinatória renovada. 

A vivência da adaptabilidade, reflexiva/criativa, passa muito pelo plano emocional, que se tornou muito rico e reflete o canal da vida, ou seja, a diversidade dos modos dualistas na relação eu/outro e os seus efeitos, enquanto dinâmicas do sentir e dos conceitos, contraditórias e em resolução, no espelho da integração biológica. Assim como reflete os modos menos dualistas que expressam os sentimentos (amor, cumplicidade, solidariedade, etc.) e um modo energético (sensitivo/reflexivo) que é o estar subtil na interfusão eu/mundo. 

O consciente está como que numa disciplina treinada e maturada que permite uma gestão harmónica deste reflexo emocional do canal da vida, onde as componentes em expressão abriram a uma estruturação cultural e interação comunicativa complexas, que já levantam todas as dimensões existenciais, éticas e estéticas dos valores (incluindo a justiça) e os seus dilemas, em resoluções mais ou menos dominadas pelos esquemas dualistas da sobrevivência que definem a cultura de cada espécie.

 

Os indivíduos estão nesta gestão consciente da adaptação criativa, onde já há uma certa autorreflexividade e, por isso, um sentido do eu que a domina, mas a estruturação biológica/cultural implica soluções dualistas que dependem do tipo de espécie (por exemplo, se é herbívoro ou carnívoro) e são determinantes dos papéis e da reflexividade. Logo os eus definem-se muito nas forças dessa condição inconsciente, que não podem aperceber e gera as contradições e dilemas dos diferentes grupos. 

O homem enquanto etapa final do insight universal

O percurso da consciência (biológica) a expressar-se no consciente é um processo evolutivo de um colapso dualizador, que se vai tornando mais reflexivo entre os opostos e, gradualmente, caminha para a não dualidade. Os seres começam por estar mais no automatismo das soluções, mas estas e as suas transições implicam uma sabedoria inconsciente ou consciência subjacente que colapsa nas suas particularidades dualistas. O consciente mais automático sente e age seguindo os caminhos rituais dessa sabedoria, enquanto o que está na adaptação criativa já experiencia essa sabedoria ou consciência (no seu dar conta) e coloca os diferentes caminhos numa transformação, mas sob o domínio de certas dualizações fixas.

 

Os mamíferos já estão conscientemente a experienciar a reflexividade sábia do canal da vida e parte dos seus condicionamentos, ou seja, já têm mais consciência nessa zona do interface eu/mundo e mobilizam-na dentro de certos limites. Tendo em conta que este interface implica todos os colapsos que a vida teve de assumir nas suas definições e marcas (o diferencial existencial), então, o dar conta da adaptação criativa ou, o consciente do mamífero, é já um modo muito evoluído de a interfusão eu/mundo estar a realizar o propósito universal.

Tudo isto permite entender melhor o que é o consciente e qual a sua função última. O consciente estabelece-se com os conteúdos do eu/mundo e, no seu percurso evolutivo, para a expressão gradual da sabedoria da consciência subjacente que, no fundo, é o caminho para a não dualidade, está a realizar um processo de insight onde vai resolvendo tudo o que está implícito nesses conteúdos, ou seja, o eu/mundo .

Este processo muito gradual do insight consciente, no caminho da expressão da consciência, só se pode dar até um certo nível, dado que os aparatos da generalidade dos mamíferos não geram a capacidade reflexiva que permite dar conta das estruturas dualistas mais fixas da mente biológica/cultural e não podem desencadear a resolução final. No entanto, a dinâmica das ondas subtis que, desde sempre, esteve a gerar as respostas da evolução da vida, a partir do reflexo das dificuldades de todos, está a trazer essa solução.

A evolução dos antepassados do homem foi um processo de insight, que continua o dos mamíferos e a meditação biológica de fundo, dando-se sobre certas condições dualistas intermédias e, muito gradualmente, suscita as subtis e as suas consequentes mais grosseiras.

As transformações relacionais e do aparato corpo/cérebro (no percurso para a postura erecta) levaram o consciente a um dar conta diferente, permitindo que o processo criativo, no interface eu/mundo, fosse entrando em novas etapas. Há mais de 3 milhões de anos, concretizou-se uma mudança relacional que já se tinha expresso de forma mais limitada em outras espécies. Os efeitos do dar conta permitiram que as necessidades gerassem respostas na forma de ideias sobre as partes do mundo, tornando-as ferramentas.

A evolução no processo criativo fomentou novas transformações do corpo e do cérebro, levando a um dar conta mais sábio que abriu a novas etapas da concretização dos valores da vida. Estes ciclos ocorreram de forma diferente nas várias espécies homo, que se encontraram múltiplas vezes, se cruzaram e competiram com as suas vantagens, ao ponto de apenas uma ter permanecido. Apesar da violência e ignorância de muitos modos da relação ao outro, o homo sapiens está numa transformação, onde se aproxima de uma experiência mais direta dos aspetos subtis do processo criativo, que culmina no insight animista.

As transformações biológicas e culturais permitiram um treino consciente que abriu o interface eu/mundo à expressão do criativo e, sem saberem, os indivíduos estavam a fomentar a evolução e a trazerem a consciência a novos patamares dualistas. O insight está lentamente a ocorrer e os indivíduos contribuem para os seus ciclos, mas ainda estão a sair de certas condições dualistas subtis e tendem a definir-se muito como possuidores do processo a partir do enquadramento dado pelas estruturações mais dualísticas, o que o torna muito gradual.

O cérebro dos nossos antepassados foi entrando num grau de crescimento progressivo e aprofundou a sua dinâmica reflexiva, nomeadamente no lobo frontal que, no homem, se tornou uma área onde convergem todos os modelos em curso, para serem refletidos nas dimensões emocionais e nos valores da vida e gerarem uma autorreflexividade mais ou menos não dualista. Esta resolução, ao ser projetada no resto do sistema, vai reformulando as estruturações com a sua sabedoria e aprofundando a abertura a um dar conta criativo, que mantém o processo e chega ao insight fundador do nosso consciente. 

As evoluções no aparato corpo/cérebro chegaram a um ponto que permite a expressão das subtilezas do processo criativo. A partir daí o aparato quase não muda e a evolução passa a estar nos treinos relacionais que transformam as estruturações neurais e o mapa cultural que as recria. A evolução entra na fase final, pois o canal da vida está agora no consciente e a resolução universal depende “apenas” do dar conta e das evoluções relacionais. Depois de milhares de anos deste treino, o interface eu/mundo entrou numa dinâmica criativa onde os conteúdos de ambos os lados se trocam e transcendem, tornando o consciente e a orgânica cultural numa descoberta e gestão deste processo criativo e da sabedoria das suas leis. 

Um dos aspetos que permitem entender o percurso e os efeitos biológicos do treino milenar que leva ao insight animista, assim como o nosso consciente, passa pelo modo como as estruturações cerebrais se estabelecem. Os outros primatas nascem com a maior parte das estruturações neurais, logo já têm os modos relacionais e a memória dos antepassados, como que, pré-estabelecidos e prontos a serem ativados ou treinados. Inversamente, o bebé humano nasce com um mínimo de relações, o que clarifica a meditação biológica, que retarda a concretização dos traços dos antepassados para os poder reformular e integrar melhor na sabedoria vegetativa.

 

Assim, o bebé está na situação de não saber nada e ir construir as estruturações de forma única, na interação direta com todos os modelos do mundo e dos outros, tal como eles surgem. Ou seja, no treino milenar que levou a este insight, os adultos estavam gradualmente numa posição mais reflexiva sobre as suas condições e foram desenvolvendo uma cultura centrada no processo criativo, na relatividade das mesmas e na sabedoria da passagem dos modelos, face a tudo o que naturalmente tende a colapsá-los.  

Isto também implica que a construção pode ocorrer em todas as direções e é importante não esquecer (na atual geração “através” da máquina) que só somos humanos por sermos criados por humanos, como as ditas crianças selvagens provam. Se formos criados por outros animais ficamos como eles e não desenvolvemos a autorreflexividade humana.

A nossa situação é muito sensível, pois somos um espelho mais límpido e aberto à sabedoria vegetativa da consciência, logo pudemos contactar os outros a esse nível e desenvolver uma relação direta com os modelos criativos das suas almas, gerando a metáfora subtil do processo criativo universal que sustenta o insight animista e é a base do nosso consciente. Por outro lado, a nossa capacidade autorreflexiva permite-nos fazer categorias de categorias, em cada vez mais níveis, e entender as suas interdependências, o que leva ao contínuo dar conta das estruturações, assim como aos modelos do processo criativo universal e da nossa definição no mesmo. No entanto, esta situação também levanta os desafios mais difíceis de todo o percurso da vida e do insight universal.

A situação é difícil porque a abertura sensível e a possibilidade de construir em todos os sentidos implicam o perigo das marcas e definições iniciais que, de forma mais ou menos traumática, se reproduzem em toda a estruturação, podendo levar às distorções e prisões em opostos que geram o drama da humanidade. Somos uma relação com o divino em nós, estruturada nos modos da orgânica cultural que, apesar da sua sabedoria, ainda contêm tudo aquilo que tem de ser refletido e vai fazer parte da nossa identidade, logo dos filtros parciais do nosso dar conta. Por outro lado, os modelos dos outros seres e do mundo não nos tocam só no sentido animista, mas com todas as suas dualidades e ignorâncias, que colapsam o devir subtil do processo criativo e enquadram um conjunto de condições difíceis de relativizar.

O estar neste processo não é simples, pois há inúmeros fatores a gerar um sentido existencial de separação, incompreensão e insatisfação, dada a dualidade base entre a dinâmica iluminada do nosso consciente e tudo o que, sem podermos entender bem, carregamos e recriamos nas nossas estruturações e ciclos internos.

 

 

Na base de todas as dificuldades estão as implicações da condição humana. 

Temos de treinar o dar conta resolutor, mas o lobo frontal não está sempre numa autorreflexão sobre as condições dos colapsos conscientes e só um treino cuidado a partir dos valores da vida é que permite um dar conta não dualista e a expressão direta das nossas estruturações mais subtis. O treino é difícil pois, embora tenhamos a capacidade de resolução, vamo-nos estruturando em modos relacionais condicionados e, involuntária ou voluntariamente, identificamo-nos com eles.

O aspeto mais complexo prende-se com as implicações desta capacidade autorreflexiva que, ao dar conta, resolve.

O processo evolutivo universal é difícil, pois está sujeito às múltiplas condições dos colapsos inorgânicos e seus contextos, que se estruturaram no canal da vida e podemos chamar de sofrimento e ignorância da vida e de todos os seres vivos. A alma humana surgiu como uma resposta a todas as almas anteriores e é uma resolução da história das condições, por isso, o aparato biológico/cerebral já pode concretizar a meditação mais subtil da vida, sobre as suas estruturações, que esteve na base da evolução, expressando a capacidade que resolve, ao vê-las tal como são. 

O que isto também implica é que não há resoluções que se atualizem sem assumirem plenamente o problema para o qual surgiram. O homem nasce sem saber nada e, sobretudo, não sabe que a sua natureza assumiu todos os níveis da problemática universal, no interface eu/mundo, e vai ter de passar por eles. Esta é, digamos que, a nossa cruz. Logo, nos caminhos da nossa estruturação e entendimento do mundo, onde estabelecemos filtros e distorções particulares, estamos a envolver-nos com essa cruz e a ficarmos presos numa interdependência complexa que a recria, prendendo-nos nos múltiplos níveis do sofrimento e na sua reprodução, cuja expressão máxima é a barbárie da história humana.

O aspeto mais subtil prende-se com a não dualidade da nossa condição. O ser humano tem capacidade de chegar à resolução não dualista, ou seja, de dar conta das dualizações convencionais das estruturações no espelho não dualista da sua natureza, levando-as a uma integração na sabedoria da vida. No entanto, o consciente vive muito nas dualidades geradas na relação ao mundo e aos outros e, não sabe que, no seu modo consciente, o interface eu/mundo ou a relação com todos os seres, nomeadamente os humanos, está numa interdependência muito subtil que recebe todas as diferenças para as resolver a esse nível.

 

A dinâmica do nosso consciente está nessa ligação extremamente complexa com todos os níveis da realidade e seus modos de colapso, logo está muito na dualidade e, na ativação interdependente dos opostos, não consegue sair das parcialidades, pois gera novas situações dualistas, mantendo-se em certos patamares da resolução/problemática. 

Importa, portanto, entender as subtilezas da dualidade, que são a não dualidade, dado que, como vimos, se a dualidade for entendida apropriadamente é não dualista. Quando nos damos conta do que está a acontecer aos polos opostos, num dado modo relacional, a sua interdependência entra numa dinâmica reflexiva/criativa ou troca orgânica que resolve os aspetos dualizadores desse modo, fazendo evoluir a relação, o sentido e o real.

 

Entendendo a dualidade ela resolve-se não dualisticamente e encaminha-nos para a experiência direta da não dualidade, que desencadeia o insight final. Por outro lado, para abordarmos as coisas de forma não dualista devemos ter em atenção que o não dual é o indefinível que tudo define, a paragem que é todo o movimento, o vazio da perfeita integração que, por isso, não expressa distinções, é o nada, não experimentado que é o todo da sabedoria resolutiva. Logo, o nada em nós é o supremo, então, devemos avaliar bem os modos de conceber o transcendente, de o mobilizar, defender, etc.

Ao entendermos bem a não dualidade, a complexidade da nossa condição, enquanto resolução mais ou menos presa no problema, “dissolve-se” espontaneamente. Isto ficará mais claro no final do texto. Abordemos agora alguns aspetos do caminho histórico do insight inicial.

A evolução do insight animista

Se o homem está na posição resolutiva que postulámos, sem saber nada e face a todos os fatores estruturantes que a colapsam e definem de um modo relativamente redutor, traumático ou destrutivo, então a história humana é uma expressão da dualidade da nossa condição, um percurso complexo de descoberta da nossa natureza, do seu processo criativo e das implicações dessa condição.

 

Na base do insight biológico está o sentido de que, conforme vamos entendendo o nosso interface eu/mundo, estamos a realizar a meditação subtil da biologia que o gera e, gradualmente, a resolver os limites da visão que temos de nós próprios. Estamos a descobrir e a completar a meditação da biologia, mas o processo não é linear, dada toda a complexidade desse interface e as definições parciais onde nos vamos estabelecendo, que levantam o problema do eu mobilizador do processo criativo e toda a problemática dualista da história.

 

A nossa condição na história da vida coloca-nos na realização da lei universal da compaixão. Estamos na interfusão gerada pelo nosso interface, e os modelos do colapso dos outros seres impactam-nos em vários sentidos e são entendidos no rasto histórico das nossas estruturações convencionais. No entanto, conforme vemos a dimensão subtil comum, do processo criativo em todos, estamos espontaneamente a trazer o nosso dar conta e o seu efeito resolutor às zonas que os outros não podem aperceber, e as etapas seguintes da evolução surgem desta relação. Esta é já a posição natural do insight animista, que funda o nosso consciente, mas ainda tem de descobrir todas as dimensões desta meditação.

 

Começaríamos por dizer que o consciente é como um texto, onde as ideias são os fluxos ondulatórios da sabedoria da vida, a trazerem as suas respostas, que só se concretizam em dependência das forças colapsantes nas premissas mais superficiais. Estes fluxos colapsam de forma mais ou menos harmónica no consciente, em dependência das estruturações dualistas ativadas no nosso esquema relacional que, conforme são apercebidas, permitem uma expressão mais sábia desse devir de fundo.

 

O consciente humano é uma gestão deste colapso harmónico que pode estar muito nos níveis reflexivos habituais ou, nos que se focam no dar conta das condições, como os científicos, filosóficos, artísticos e espirituais, e ter de se confrontar com as dificuldades autorreflexivas levantadas pelas estruturas utilizadas nesses modos de colapso.

 

O bom exemplo é este texto que, dadas as premissas dualistas de uma síntese descritiva, não poética, tem de colapsar a possibilidade de entendimento de uma história que implica todas as dimensões e é muito mais rica e complexa do que a recriada.

 

Portanto, qualquer sentido (emitido, recebido, refletido, etc.) é um processo criativo que implica sempre toda a história (do universo, da vida e dos humanos) a ser colapsada pelas condições relacionais, num significado particular que, por isso, é relativo a elas (futuro post). 

Os outros animais estão no condicionamento pré-estabelecido pelas sínteses das estruturações e disciplinas biológico/culturais e, embora tendam a não gerar uma autorreflexão sobre as mesmas, vivem no processo criativo e os seus percursos históricos podem ser extremamente sábios e desenvolver capacidades que tendemos a colapsar no nosso. Esses condicionamentos podem ser limitativos mas, nessas disciplinas, sabiamente forjadas no tempo, muitas vezes sob o domínio das forças da sobrevivência, asseguram um equilíbrio da identidade individual e do grupo. 

 

Enquanto o homem, na sua condição criativa, sensibilidade extrema e possibilidade de construção em todas as direções, está nas disciplinas que mantêm o processo criativo dentro dos constrangimentos dos modos de sobrevivência e de inúmeras dimensões subtis que está a descobrir nessa relação complexa com a natureza.

 

Neste sentido, as culturas dos caçadores recoletores recriam-se como modelos orgânicos do canal da vida, integrando o mundo (e todos os seres) num mesmo processo criativo, onde refletem a sabedoria que nos ensina e serve de modelo de geração, assim como todas as complexidades e subtilezas que são entendidas nos modos possíveis da intuição e da resolução narrativa das suas qualidades.

 

A orgânica cultural mantém a sabedoria do processo criativo numa gestão ritual dos atos e sentidos, tendencialmente não dualista, retornando cíclica e reflexivamente às dinâmicas e qualidades que asseguram a estabilidade do processo, face a tudo o que o colapsa, nomeadamente nas relações humanas. É um retorno meditativo muito concentrado num modelo de geração, que mantém as subtilezas do processo e a entrada em fase com o sentido harmónico e transcendente do devir criativo do mundo, evitando que os aspetos complexos o dominem.

 

O sentido do criativo está em todo o lado e permite novas adaptações e soluções a vários níveis, no entanto, nesta geração, o consciente tende a não poder "sair de si" para refletir sobre as condições do modelo cultural, ou a dar-se conta da convencionalidade de muitas estruturações, nomeadamente as derivadas dos caminhos traumáticos e visões complexas do criativo. Por outro lado, os encontros entre diferentes povos e modelos transformam o caçador em guerreiro, suscitando estruturações relacionais que se tornaram mais ou menos dominantes das identidades culturais.

 

No entanto, os rituais iniciáticos expressam bem o processo de fundo, a dinâmica da transcendência das definições provisórias da identidade, revelando o homem como ser transpessoal que sabe agir com o criativo e viver o mundo nessa interfusão. Esta dimensão expressa-se melhor nos percursos dos xamãs que assumem os males da tribo e passam por etapas arquétipas de resolução, com aspetos semelhantes às do insight final. O consciente está assim numa dinâmica criativa/espiritual, que avança na descoberta do interface eu/mundo, dentro dos limites e dominâncias do modelo de geração, sem que o sentido último da condição humana se torne o aspeto mais importante.

 

...

Com o surgimento da agricultura, a entrada em fase com o devir da natureza passou a outra dimensão meditativa, pois tivemos de nos descobrir nas subtilezas do processo criativo das plantas e na sua interdependência com todos os fatores contextuais e ciclos do ano. Ficámos mais no mesmo local, a refletir sobre todas as interdependências, face à dádiva vegetal que evoluía com o nosso dar conta desse processo criativo e, no fundo, estávamos a entrar numa meditação montada na sabedoria da nossa natureza vegetativa; a descobrir a dimensão do cultivar, do cuidar sábio que se reflete nos frutos e sua evolução. Passámos assim a viver e a entender o processo criativo de um modo que abria os sentidos de muitas dimensões do nosso interface e nos tornava mobilizadores da criação ou, modeladores da natureza a partir da sabedoria não dualística dos seus equilíbrios.

No entanto, este caminho de descoberta subtil e abundância seria marcado por muitas oposições que, gradualmente, foram estabelecendo um sentido de separação face às fontes do criativo e, no fundo, face à nossa natureza, cujos efeitos acabariam por dualizar o modo de geração e a orgânica cultural. Alguns dos fatores que contribuíram para este sentido de separação passaram pela nossa dependência das plantas cultivadas e humanizadas, face a uma natureza selvagem da qual nos vamos afastando, pelo traumatismo cultural, derivado das calamidades naturais a que a agricultura está sujeita e das novas doenças, que foram surgindo com a fixação de uma população em crescimento exponencial e, nomeadamente, passaram pela diferenciação social e a necessidade da guerra para defender a abundância ou para sobreviver quando ela termina.

 

A interfusão criativa gerada no interface do consciente humano é complicada, pois vive nas interdependências que igualam o interior e o exterior, colocando-nos na situação dos atos humanos terem correlações sensíveis com o devir de todos os fenómenos externos. Este estar no mundo levou à gestão ritual das qualidades que permitem manter o processo numa entrada em fase harmónica com o todo, sem que seja dominado pelos colapsos complexos, ligados a certas entidades e causalidades. 

 

Dado o processo dualístico das culturas agrícolas, que vivem os desafios do desabrochar populacional, entre a evolução reveladora, o domínio do processo criativo e a calamidade traumática, o grupo teve de reorganizar o seu mapa do canal da vida e de se concentrar numa gestão mais especializada e cuidada da entrada em fase com as qualidades eficazes e o devir harmónico do real, que passou a implicar uma visão muito abrangente das forças da criação e sua correlação complexa com o ser humano. Este processo aprofundou-se no percurso dos povos que geraram as civilizações, mas o rastro do sentido de separação foi-se agravando e acabou por estabelecer um modo complexo de estar no processo criativo, cujas consequências se reproduzem até hoje. 

 

A nossa natureza é um processo universal que, na sua não dualidade, transcende ou é a transcendência dos modos habituais do colapso consciente, por isso, o sentido apropriado da mesma dá-nos o espelho onde esses modos podem ser vistos e resolvidos. O processo relacional da devoção e dos seus rituais são modos de estar perante esse espelho que permitem a naturalidade da transformação, mas tudo isso é o nosso processo criativo, cuja gestão sempre se deu através destes modos e trocas. A evolução do eu, na entrega transformadora a um outro (imaginado, real e mais ou menos materializado) é o processo animista de sempre que, de inúmeras formas, continuamos a fazer em todas áreas. 

Dadas as estruturações derivadas do processo dualístico da cultura agrícola, foi surgindo um sentido de separação que constrangia o dar conta num ponto de vista mais terreno e, gradualmente, estava a fixar uma definição do ser humano, onde as qualidades do criativo, que sempre foram a nossa natureza a poder mostrar-se, ligadas aos elementos e às entidades (animais, vegetais, cósmicas e humanas), são vistas através desse filtro e tornadas sublimações e divindades transcendentes, cuja definição é enviesada pelos efeitos dualísticos da separação. 

O consciente está entre o domínio crescente do processo criativo do mundo e os “castigos” inexplicáveis, por isso, a relação às qualidades do criativo vai refletir esta dualidade. Por um lado, as qualidades ganham uma separação transcendente tornando-se divindades e, por outro, a sua definição recria os conteúdos vividos nessa dualidade, em traços de autoridade que exigem submissão ou em personalidades que têm poderes sobre a criação, mas vivem numa complexidade emocional homóloga à humana. Ou seja, o filtro gera uma separação e mistura os conteúdos humanos no espelho, logo as trocas tornam-se mais dualistas e vão gerando uma explosão de divindades e rituais, cuja repetição instrumental reforça o sentido de separação e vai levando a posições entre a entrega forçada e o domínio da criação. 

A par desta mudança, a separação está a ocorrer na ordem social, através da especialização dos papéis, que se situam em diferentes pontos de vista da resposta geradora da abundância, da sua defesa e distribuição, e se vão definindo no mapa cultural dentro da dualização valorativa base, que atribui proximidades às qualidades terrenas e às transcendentes.

A cultura mantém-se nos seus rituais de entrada em fase e, na base, tem uma hierarquia natural, derivada da autoridade da sabedoria, que reproduz a família no grupo alargado, no entanto, conforme este cresce e se torna mais complexo, as autonomias dos subgrupos ligados ao poder de defesa/ataque e à relação ao transcendente passam a ser dominantes, logo a partilha da abundância e o seu sentido social ficam reféns do peso das visões e dos interesses dos mesmos, que se reproduzem nas separações estabelecidas e nas limitações comunicativas. Esta evolução vai gerar o colapso de uma não dualidade fundamental no processo criativo. 

A igualdade e o devir subtil da amizade que se gera, permitem o dar conta que valoriza as diferenças com sabedoria, levando à fluidez da transformação conjunta. O sentido da igualdade é uma expressão da integração subtil, na base da dinâmica criativa biológica e do consciente humano, logo da posição de compaixão que espontaneamente pode ver a subtileza comum em todos e ajudar na expressão/resolução dos condicionamentos.

O colapso da igualdade é uma quebra da ligação às subtilezas no devir sábio da integração biológica, dualizando os outros valores (liberdade, amor, etc.) nas forças da separação que definem os indivíduos. Assim, conforme a dualização valorativa se estrutura no mapa social e colapsa as relações, gera-se uma ilusão ou engano, onde todos deixam de poder estar no devir natural do seu processo criativo, que precisa desta igualdade para os vários níveis condicionantes se poderem expressar, dado que, na realidade, são sempre de todos. Estamos a caraterizar a separação neste contexto civilizacional de descoberta das subtilezas da natureza e organização do grupo em torno da mesma, mas ela também surgiu nas culturas tribais, mais ou menos pastoris, com o crescimento populacional e a necessidade de haver uma estruturação guerreira do grupo que se torna dominante.

Assim, diríamos que, na separação, uns podem estar a lidar com a essência criativa que suporta todos, mas ficam condicionados por uma definição mais limitada e próxima das marcas separadoras e, nessa opressão, ignorada ou consciente, estão na condição de se envolverem de forma complexa com as mesmas e de sublimarem ou desejarem a situação do outro, aparentemente mais evoluída ou próxima do transcendente. Enquanto, os nas posições “transcendentes” podem beneficiar dos contextos qualitativos, do tempo e do conhecimento, mas confrontam-se com o engano que inverte a definição do criativo e com a opressão de já serem a resolução, que não se consegue expressar, mas sobretudo com o erro do poder, envolvido nessa inversão que, em múltiplos níveis de abuso, é mobilizada nas lógicas da auto-importância, da ignorância, da violência e da indiferença.

 

Neste caminho de quebra do sentido de igualdade, de separação face às fontes do criativo e de domínio das mesmas, a dinâmica relacional e o processo de entrada em fase com o devir estão sujeitos a uma dualização enganadora que, através de uma prisão no oposto, tende a perverter o sentido das trocas criativas e a definição do homem no seu próprio processo criativo. Ou seja, a nossa condição define-se como resolução/problema, mas a resolução não se pode dar, nem ser bem entendida, pois tendemos a ser definidos no problema pelas forças da separação e as visões do transcendente. 

 

Dadas as diferenças evolutivas nas várias culturas, este problema da separação pode surgir aqui como uma generalização forçada, no entanto, ao longo dos milénios, vai tender a reproduzir-se em todas e, na realidade, a nossa condição existencial implica uma ligação que, desde sempre, o recriou em todo o lado. Os seres vivos não estão apenas ligados no plano subtil da integração total ou na estrutura base do canal da vida, mas também nas estruturações complexas. A posição dos humanos no interface eu/mundo pode resolver as condições do canal da vida mas, quando uma cultura as reforça, há uma ativação no colapso mundial que chega virtualmente a todas, por isso, a problemática de uns chega subtilmente a todos, assim como a resolução conseguida por uns beneficia todos, desde que não a colapsem continuamente. Logo, uma resolução final tem de ser individual, dentro de uma consciência de todas estas interdependências, e tem de ocorrer a todos.

 

Nascemos como um modelo único da resolução, por isso, estamos conectados de forma particular com a problemática universal e nomeadamente com as incompletudes dos nossos antepassados, mas surgimos sem saber nada, em contextos culturais ligados numa interdependência subtil, que foram projetando os conteúdos complexos da separação na fronteira do interface eu/mundo/outro, e obrigando-nos a estar num envolvimento com a problemática, que nos prendeu nesse oposto e gerou o sentido de um mal inerente e do fim de um tempo de entrada em fase harmónica com o todo, assim como o sentido de queda do paraíso, ou prisão na terra (elemento e planeta), de prisão da alma no corpo e de condição kármica. 

A separação face às fontes do criativo e a social, geradas pelas civilizações no mapa orgânico da cultura, estabeleceram uma problemática muito complexa que, direta ou subtilmente, se reproduziu no mundo e continuou até aos nossos dias. No entanto, nesta forma traumática, o processo criativo estava a ser confrontado com a problemática principal, o que abre ao sentido não dualista desta evolução. Desde sempre houve separações irrefletidas, entre os homens e as mulheres ou entre povos, assim como ligadas às complexidades emocionais suscitadas no interface animista e ao domínio das estruturações guerreiras. Portanto, de forma muito constrangedora, a civilização foi expressando o que é o colapso da separação e os seus efeitos perversos, logo, apesar das dificuldades acrescidas, a reflexividade foi tendo de dar conta de todas as causas da separação e foi abrindo caminhos de descoberta da condição humana.   

 

Este corte separador, onde se fundiram todas as estruturações a serem resolvidas, projeta-se no indivíduo, como que definindo a fronteira do interface consciente numa interdependência complicada e aberta a todo o tipo de enganos, mas está gradualmente a gerar as condições para cada um refletir sobre a convencionalidade de tudo o que o condiciona.   

Durante este percurso e nas etapas seguintes da nossa história, as culturas continuaram a evoluir no aprofundamento da descoberta, do conhecimento e da expressão, cada vez mais especializados, das suas diferentes componentes, mas dentro de um enquadramento da condição humana que se estrutura na problemática da separação e a vai agravar e tornar muito complexa, quer na conflitualidade interior às diferentes culturas, quer nos encontros, confrontos e misturas entre povos mais guerreiros e civilizações ou entre estas. Tudo isto contribuiu muito para o domínio crescente das estruturações dualistas, ligadas à guerra e ao poder sobre os outros e sobre os bens materiais e culturais, que estabelece uma lógica opressiva e colapsante das dinâmicas subtis da evolução criativa e da integração humana. Ou seja, a problemática universal, que se recria no canal da vida, está a expressar-se completamente na orgânica cultural e a dominá-la com a força dos colapsos mais dualistas.  

No entanto, tudo isto está a contribuir para um sentido individual da relatividade dos modelos culturais e para uma certa visão integradora dos povos, uma reflexividade sobre a cultura, os modelos políticos, os valores e a condição humana, que se manifestará de muitas formas, nomeadamente místicas e filosóficas. 

A partir de cerca de 2000 a.C, as ondas subtis da alma da vida parecem ter gerado respostas a este processo evolutivo, expressas nas resoluções que certos indivíduos trazem e os levam a entrar no percurso do insight final da natureza humana; nas etapas do evento da iluminação. A uns o processo ocorre espontaneamente, enquanto, a outros surge nos percursos autorreflexivos e espirituais das suas culturas ou, em consequência de um caminho reflexivo pessoal. 

Todos eles, em consequência do processo que já lhes ocorreu ou está no caminho da sua eclosão, vão desenvolver uma visão da convencionalidade dos modelos culturais e entrar na descoberta do sentido universal dos valores da vida, vivendo a expressão resolutiva das estruturações que definem as fronteiras da separação, logo o interface eu/mundo numa manifestação direta da não dualidade da criação, que se aprofunda nas etapas evolutivas da iluminação. 

 

Alguns seres humanos entraram no evento biológico que completa o caminho do insight universal e foram levados pelos desafios das suas etapas, podendo ou não finalizá-lo durante o tempo de vida, em dependência da forma particular como o evento surge e do percurso individual num dado contexto. Como que, a título de homenagem lembremos os mais salientes: Abraão, Moisés, Zaratustra, Orfeu, os sábios hindus dos Upanisads, Lao Tsu, Gautama Sidarta, Sócrates, Platão, Jesus e Maomé.

   
Os percursos são diferentes, assim como as realizações, as mensagens, os métodos, as visões e a forma das culturas as receberem e integrarem, mas a não dualidade está a ser vivida e a gerar caminhos de realização plena da condição humana, que estarão na base das nossas culturas, dos novos eventos e das transformações que, dialeticamente, as vão levando à situação de resolução final.

 

Mesmo os que puderam completar as várias etapas e ser aceites pela sua cultura não transmitiram tudo o que estavam a realizar e tiveram de simplificar o sentido da não dualidade. Outros tiveram eventos mais difíceis, que se completaram ou não, e viveram em contextos complexos, alguns confrontaram-se com o colapso das forças culturais e foram mortos, outros seguiram percursos menos salientes, etc. Por outro lado, as mensagens e a ligação às realizações foram filtradas ou colapsadas pelos modos de recepção, integração e apropriação cultural, em caminhos interpretativos que sustentaram enviesamentos e formas de separação iniciais, mais ou menos resolvidos nos ciclos autorreflexivos da história.

 

No entanto, o verdadeiro sentido da condição humana, nomeadamente da resolução, pôde expressar-se e definir o espelho consciente na não dualidade do Deus ou da verdade última, onde todas as estruturações e separações se podem refletir e, manifestando as suas parcialidades e ilusões, abrir cada um ao insight final.

 

Importa relembrar que este processo final é o culminar da meditação da biologia sobre as suas estruturações. A meditação que conduziu a evolução dá-se continuamente no canal da vida, através dos processos que asseguram a sua integração, permitindo que os treinos e marcas do dia sejam refletidas no espelho da integração total e as estruturações das respostas relacionais se renovem, assim como, que os diferenciais existenciais ligados aos níveis desse canal, estejam a ser refletidos e a gerar as respostas nas ondas de fundo que se expressam nos novos seres vivos ou nas novas almas.

 

Este processo ocorre de formas diferentes em todos os seres vivos e mostra-se claramente durante os ciclos do sono, onde o sono profundo é a etapa em que todos os níveis estão em fase com a integração total, e o sonho a etapa em que as estruturações dos mesmos são ativadas de forma não dualista e fazem um treino conjunto que as renova. No aparato humano esta meditação já está continuamente a expressar-se no consciente e pode ser levada ao ponto do insight final, onde todas as estruturações entram de forma última na reflexão resolutiva, que responde à totalidade das suas histórias ou, ao diferencial existencial da vida, colocando o consciente a fazer isso no mundo, em fase com o devir na consciência das respostas de fundo. Este é um entendimento biológico do insight.

Neste sentido, deixamos um pequeníssimo apontamento sobre o percurso da cultura indiana que, nos seus ciclos reflexivos sobre as etapas anteriores, foi tendo novos insights e gerando os modos relacionais e métodos de entrada em fase com as dinâmicas biológicas desta meditação, estabelecendo o interface que desencadeou o evento final.

 

O percurso do insight biológico hindu passou por uma etapa inicial, muito focada na arte não dualista dos rituais de entrada em fase com o criativo e sua mobilização em vários sentidos, onde já se conhece certas concentrações e reconhece o sono profundo como o patamar expressivo da unidade universal do ser. Posteriormente haverá vários ciclos reflexivos sobre as dimensões subtis do processo criativo e a sabedoria não dualista, que lida com a problemática existencial a ser resolvida e gera as entradas em fase meditativas com o devir biológico de fundo, as ditas meditações, assim como permite manter a relação ou, o interface eu/mundo, continuamente nessa subtileza transformativa. 

 

O evento final vai surgir de um dado modo e depois evoluir para outros, gerando inúmeros iluminados e realizações, em caminhos reflexivos que retornam sobre os iniciais e fundam as diferentes áreas da cultura neste sentido da condição humana. A sabedoria deste modo de estar no processo criativo vai penetrar todo o Oriente e chegar ao Ocidente, em sincronia com as nossas etapas reflexivas que, cada vez mais, se fazem com muitas das suas dimensões meditativas.

 

Nesta visão da condição humana (enquanto resolução/problema) nós somos definidos como a resolução, mas o que chamaríamos de encaixe particular na problemática universal é visto como uma condição kármica à nascença, que continua uma prisão no problema gerada em vidas anteriores.

 

Portanto, estamos a continuar erros anteriores e temos de dar-nos conta deles e das suas estruturações com este enquadramento, dentro dos vários modos que levam à resolução dessa separação face à nossa natureza. Ou seja, somos a natureza última, mas estamos desde logo definidos no problema e somos os únicos responsáveis pelo que temos de resolver.

 

Assim, as estruturações complexas nos ciclos do consciente (desejo, avidez, sofrimento, etc.) e os seus reflexos no mundo que vemos e nas dificuldades que surgem são inerentemente erradas e recriam um lastro de erros que carregamos e tendemos a perpetuar?

 

Diríamos que há uma inerência no envolvimento com o problema que pode dificultar a visão de tudo como expressões do que se está a resolver. 

 

Este é um dos aspetos da separação que se mantém neste entendimento da condição humana, tendendo a sustentar um sentido de prisão na terra, enquanto ciclo de reencarnações complexas, e a dificuldade de entendermos o porquê de, a priori, existir um condição kármica, assim como os sentidos subtis da não dualidade, nomeadamente, o que no contexto budista se entende por unidade do samsara/nirvana.

 

Este ponto de vista só se torna complicado quando a cultura considera que as dificuldades das condições kármicas se distribuem pelos níveis sociais e, por isso, os que estão nas posições cimeiras estão mais próximos da realização final. Recria-se assim a ilusão da superioridade e a potencial indiferença face às condições dos outros, que mantêm as distorções ligadas à separação e impedem o entendimento do problema. 

 

Se somos essa natureza resolutiva porque se desenvolveu a condição kármica? 

 

Nós somos a resolução da problemática universal, mas nascemos sem saber nada e encaixamos de forma particular na mesma. Por isso, envolvemo-nos com ela e tendemos a gerar uma condição kármica, pois estamos a estruturar-nos na mesma, dentro das condições da vida familiar e sob a influência de vários fatores subtis, como a projeção social da separação e a atividade subtil dos modelos de todos. Logo temos de ser muito apoiados para não ficarmos presos no problema, a gerar todo o tipo de distorções, mas descobrirmos as formas de implementar o nosso potencial. Neste sentido, importa chegar a uma visão da condição humana onde a resolução assume a sua natureza e o problema tal como são, podendo realizar-se espontânea e continuamente ao nível do insight final.

 

A natureza da resolução é não dualista, é o vazio da integração total das relações. Portanto, entendendo bem o que somos (nesse nada, não visto e impossível de possuir) reconhecemos as expressões do nosso encaixe particular com a problemática universal, vendo o que resulta das voltas ingénuas e ignorantes do nosso envolvimento e, posteriormente, as estruturas históricas dessa problemática.

 

Toda a complexidade é vista, e realizado o verdadeiro sentido do erro, no dar conta que completa o seu percurso de sempre. A não dualidade da nossa condição realiza-se no entendimento que anula a ilusão da separação entre resolução e problema, permitindo aceitar todas as dimensões do problema tal como são, logo deixar de o fixar, por nos identificarmos com os envolvimentos ou por querermos estar na resolução. No entendimento, a resolução pode dar-se e, tudo o que tem de ser visto e passar por nós, mostra-se sem entrar nos envolvimentos e graus acrescidos da sua complexidade. Entender bem a nossa condição, enquanto não dualidade da resolução/problema, é vê-la tal como é, o que permite a sua realização. 

O caminho para o insight mundial

Tendo em conta tudo isto, diríamos que, em vários sentidos, o Ocidente esteve desde sempre numa visão bastante dualista da condição humana. Por um lado, houve um sentido de separação, ligado a um mal subtil em evolução e à dita prisão na Terra e nas limitações do corpo, que foi percorrendo as culturas e tornando-se mais dominante, juntamente com um desencanto na vida terrena, cada vez mais sujeita a todas as contradições do poder. Por outro lado, o modo como os eventos ocorreram e evoluíram, assim como as diferentes culturas lidaram com os seus iluminados e integraram as suas visões clarifica bem as forças dominantes no seu colapso relacional. Abraão teve de passar por inúmeros desafios num contexto em oposição, os profetas foram deixando de ser escutados, Zaratustra deparou-se com grandes dificuldades na passagem da sua mensagem, que foi integrada de forma dualista, Orfeu foi morto, Sócrates aceitou a pena de morte e Jesus Cristo teve de assumir a sua condição da forma brutal que todos conhecemos.

 

A realização de Jesus Cristo expressou-se na não dualidade relacional da igualdade, abrindo a todas as não dualidades valorativas: da liberdade, do amor, da criação e do eu/Deus. O dar conta humano estabelece-se na natureza subtil da vida e coloca-nos na posição da compaixão universal que, ao aperceber a convencionalidade dos colapsos relacionais, os integra na sabedoria resolutiva. Assim, quando os seres humanos se encontram gera-se uma troca universal, onde o dar conta de cada um pode resolver as dificuldades do outro e, por isso, a relação humana é já o processo do insight final. A dinâmica que leva a relação a esse diálogo, onde se resolve o universo, depende da natureza que o cria e nos iguala, dando-nos a capacidade desse dar conta conjunto. 

 

No cuidar da igualdade estamos a manter-nos na base subtil, na humanidade, onde tudo pode ser visto e resolvido não dualisticamente. Nesse simples igualar humano está toda a verdade e a sua resolução, logo as trocas comuns tornam-se a realização divina. Por isso, por exemplo, quando vemos que todos somos pecadores, nesse momento deixámos de o ser e passámos a ver em conjunto os níveis causais por detrás dos atos e motivações, a entender a problemática do envolvimento e a realizar a condição humana. Nesse igualar descobrimos o reino do céu, que está em nós, terminando o engano da separação face ao Deus.

 

Portanto, Cristo manteve-se sempre na simplicidade não dualística da igualdade, vivendo e expressando a ilusão da separação, mesmo na cruz e na morte, realizando assim a perfeição da condição humana. O reino do céu, a iluminação, é a nossa natureza, a simples humanidade, que está sempre muito próxima e, recebendo tudo na sua frágil existência, está a resolver o universo.

 

O percurso do Ocidente e a sua influência globalizadora dependerão muito dos modos como esta simplicidade será entendida e implementada. Apesar da mensagem de Cristo ter a sabedoria não dualista que nos define como a resolução, colocando-nos a abordar o problema de forma apropriada, os seus recetores não passaram pelo insight final, logo, dada a complexidade das estruturações pessoais e contextuais, é inevitável que o entendimento reflita esse diferencial.

 

O caminho dos cristãos dá-se dentro de uma concentração autêntica na humanidade, mas a formalização do diferencial tende a definir-nos no problema ou, enquanto pecadores, através do sentido de prisão na terra e, gradualmente, vai-se tornando intolerante às interpretações, aos modos de vida minoritários e a todos os atos sociais que recriam esse sentido no espelho dualista da perfeição idealizada. Esse percurso que, lentamente, caminha para a instituição de um Estado persecutório, à medida que a problemática do poder afeta a humanidade em todas as áreas, é o da prisão no oposto, onde a diferença se tornou separação e todos ficaram presos no problema, a recriá-lo conforme o tentam eliminar, sem poderem dar-se conta, em conjunto, do que se quer expressar e resolver. 

 

Depois do caos e prisão no inferno, medievais, vamos entrar num conjunto de ciclos dialéticos ou devir entre os pólos das dualidades, que é complexo e se dá em ritmos diferentes nas várias áreas do pensamento e vida social mas, no fundo, é o caminho da reflexividade a dar conta das estruturações preexistentes e das que estabelece nos modos desse dar conta. A sociedade vai entrar, gradualmente, numa dinâmica de insight sobre as múltiplas condições e, nas dialéticas macro ou micro, está a caminhar para modos de relação menos dualistas que permitem aprofundar o processo.

 

O consciente está na dualidade, a lidar com as dificuldades que as subtilezas da definição e apoio em opostos estabelecem mas, conforme oscila entre estes, vai-se dando conta das mesmas, descobrindo o processo criativo e gerando uma reflexividade que se aproxima da não dualidade, ou seja, de um dar conta a partir do espelho subtil da nossa natureza.

 

Tentando não ser simplista, abordo este caminho de insight focando-me nos aspetos dominantes dos paradigmas relacionais em evolução, assim como nas prisões no oposto que se foram gerando e nos modos como o processo da separação se foi resolvendo. 

 

Os ciclos são dialéticos face a anteriores ou a outros coexistentes e implicam um dar conta das estruturações convencionais (sociais/pessoais) que se realiza com base num sentido dos valores da vida, mais ou menos filtrado por aspetos a dar conta posteriormente. 

 

O colapso das contradições opressivas medievais levou a um dar conta das mesmas que encontra uma posição de liberdade individual, de valorização do potencial humano e de dissolução da separação entre Deus, o homem e a natureza. No Renascimento o homem foi surgindo como a resolução e retomando o seu papel no processo criativo, nomeadamente através do espelho dado pelos caminhos sábios da história pré-cristã e da concentração no desenvolvimento de todas as capacidades relacionais, que o abrem a pontos de vista relativizadores das estruturações estabelecidas e sintetizadores de um sentido universal da sua condição criativa, assim como levam à interação direta com todos os níveis do real, nomeadamente, os mais subtis.

 

Este processo de geração e descoberta dos vários sentidos da verdade do eu/Deus dá-se muito na mesma dinâmica metafórica e mágica do pensamento medieval, tendendo para uma hiperconexão e visão causal que, no limite, fica presa na pura fantasia. O ciclo seguinte surge precisamente associado a uma reflexão crítica que, face a esta dimensão do pensamento renascentista e aos sentidos tradicionais, define posturas e métodos para a avaliação de todas as verdades preestabelecidas e a construção objetiva do conhecimento. Descartes desenvolve mesmo uma espécie de processo voluntário de “insight”, onde através da dúvida se dá conta dos aspetos convencionais da experiência consciente e, pondo retoricamente tudo em causa, chega à essência indubitável do seu ser no: “penso, logo existo”.

 

A revolução científica está a começar e, com base nos insights sobre a ilusão das aparências, na razão dedutiva e na comprovação empírica, vai respondendo a todos os modelos parciais da visão do cosmos e da interação física, gerando um conhecimento objetivo que anula as qualidades imaginárias dos mesmos e nos coloca perante um dado nível causal da realidade “tal como ela é”. 

 

Assim, este ciclo será marcado por um dar conta que pretende continuar esta abordagem em todos os campos, como que colocando as suas estruturações sob a luz da razão crítica. O Iluminismo parte deste modo de relação e de uma definição objetiva dos valores que permite entender a convencionalidade das estruturações sociais, das suas instituições e modos tradicionais do pensamento. Neste sentido importa salientar o papel das metáforas dadas pela biologia que, a partir daí, estarão na base do nosso entendimento do real. Uma delas funda a igualdade e a liberdade no estado como nascemos, ou seja, sem estruturações e na possibilidade de nos construirmos em todos os sentidos.

 

Com base neste espelho pudemos perceber claramente a relatividade das convenções sociais e entrar numa visão mais orgânica da sociedade, onde se abriram os vários sentidos da sua reconstrução: económico, político, educativo, etc. No entanto, importa lembrar que, apesar de nascermos com um “espelho limpo”, as estruturações culturais, por mais distorcidas que sejam, nunca foram algo artificial imposto sobre essa liberdade, mas a matéria prima da história humana e da vida que temos de entender e resolver, e isso não vai ocorrer através de uma relativização radical.   

 

O aspeto essencial do insight iluminista passa pela dominância do modo relacional da razão crítica que, na dinâmica analítica da dúvida e da separação classificadora, salta entre os opostos das dualidades e pensa através de primitivas essencialistas do significado, logo tanto para a proliferação mental, metafórico-fantasiosa, ou tem visões de componentes da convencionalidade e descreve certos níveis causais, quanto impõe um colapso consciente objetivado pela separação, pelo reducionismo e o mecanicismo esquemático, que dificilmente se dá conta dos limites desse modo relacional.

 

Pegando no exemplo de Descartes, diríamos que, não há um dar conta reflexivo da convencionalidade que abra à nossa natureza e a uma transformação subsequente do dar conta, mas uma relativização retórica que convencionaliza todas as referências para provar o modo onde sempre esteve, ou seja, a pensar com a razão crítica, e estabelecê-lo como ponto fixo para todas as abordagens. O “penso” é tão convencional e enganoso quanto todas as outras referências, incluindo a ideia de Deus enquanto perfeição: o que é o “penso” e o “eu” implicado, sendo ambos pensamento; estamos sempre no pensamento, mas qual o significado ou, o que é o significado e como se constrói em diferentes modos relacionais, quando dizemos “eu” ou “Deus”, haverá algo fixo para lá do pensamento ou da troca por outras referências e pensamentos, onde é que o processo para, e o que seria o “penso, logo existo” sem estes sons, interiores ou exteriores?... 

 

O filtro dualista da razão gera insights sobre a convencionalidade das nossas conceções, mas os novos sentidos estão sujeitos ao seu modo de colapso, logo tendem a não gerar uma verdadeira dinâmica de insight, ou seja, a não abrir a uma expressão sábia das marcas e estruturações que estabeleça resoluções e aprofunde a entrada em fase com a nossa natureza.

 

A dualização racional constrange esse processo criativo no seu colapso objetivante, ao qual todos os conteúdos têm de se submeter e estar aparentemente sob o nosso controle, com um significado ou polarização preestabelecida que reduz os seus sentidos e os articula nas trocas de um mecanismo resolutivo. Este processo colapsa inúmeras dimensões da orgânica criativa, onde a abertura ao insight se poderia dar, e acaba por gerar prisões no oposto do que é pretendido. Os conteúdos do pólo oposto estão a surgir como um espelho para nos darmos conta das condições desse modo de relação mas, em consequência do corte e da fixação do mesmo, tendem a ser sentidos como oposições e dificilmente geram uma autorreflexividade transformadora.

 

A razão gera-se nas dificuldades levantadas pela interdependência entre os pólos das dualidades, que as tornam unidades orgânicas a ser geridas com sabedoria, dentro do devir natural da dialética entre opostos, que está a resolver as relações anteriores e, gradualmente a realizar a não dualidade. Daí que, a razão crítica, no seu dualismo, tenda para a prisão no oposto e para uma certa dificuldade autorreflexiva que impede este devir dialético ou, o mantém apenas em certos níveis. 

 

Assim, a razão, na sua avaliação sistemática do convencional, em vez de abrir à vivência dos valores e da nossa natureza, gera separações e opressões colapsantes do sentido, ou seja, modos de colapso relativamente caóticos das ondas integradoras, expressos no: relativismo, individualismo ou alienação do outro, na separação face à nossa natureza e no esvaziamento espiritual, mas também no determinismo, ou seja, na força colapsante da máquina e na impossibilidade do criativo e do livre arbítrio, ou na ditadura das ideias que não conseguem aperceber-se do seu modo de colapso, etc. Assim, todas as áreas que tiverem de assumir a dominância do colapso racional estarão mais sujeitas a estas dificuldades e farão uma evolução autorreflexiva mais lenta.

 

O ciclo seguinte vai surgir precisamente da consciência destas dificuldades e, nomeadamente, da necessidade de um dar conta autorreflexivo, que se apercebe dos traços colapsantes no seu próprio modo relacional e se abre à transformação criativa e à expressão das estruturações condicionantes precedentes, ou seja, à dinâmica do insight.

 

O Romantismo está nesta visão do processo criativo, já sob a influência dos caminhos da iluminação oriental, e assume uma metáfora orgânica total, onde o espírito criador do cosmos é o da natureza, da cultura e do indivíduo, por isso, a concretização dos valores e a transformação social podem dar-se através dos caminhos criativos pessoais que se estabelecem e aprofundam na descoberta dessa continuidade, através do sentir, da intuição e da sabedoria autorreflexiva, e estão a trazer esse espírito e o seu processo criativo à evolução de todas as dimensões do real.    

 

O aspeto chave para as etapas seguintes prende-se com a visão idealista do interface eu/mundo, ou seja, de que tudo é linguagem, logo este não tem uma objetividade fixa, mas dependente das premissas e conceitos que colapsam os modos relacionais. Não há uma objetividade em si ou, real, mas apenas uma construída nas condições que conduzem o tipo de colapso, logo é necessário estar num retorno consciente a essas condicionantes. Isto ocorre naturalmente no devir dialético do eu/mundo, porque os opostos estão sempre presentes a refletirem-se e a trazerem o eixo da separação, que os define, ao dar conta que intui a sua convencionalidade e entra na resolução criativa, abrindo a uma nova etapa de expressão das condições e de aprofundamento do insight.

 

Vejamos agora o percurso evolutivo até à atualidade com base nesta clarificação da problemática dualista da razão e da sabedoria dialética que a resolve. Em termos gerais, diríamos que estes dois grandes modos de estar no processo reflexivo/criativo geraram uma dualização entre as diferentes áreas e seus subcampos, que se tornaram mais ou menos dominadas por um ou pelo outro mas, gradualmente, a autorreflexão foi-se tornando mais importante em todos e gerando etapas de um insight onde a não dualidade começa a ser realizada.

 

As áreas dominadas pelo dar conta das condições do processo reflexivo/criativo, vão aprofundar a sabedoria dialética e entrar na experiência de certos sentidos da não dualidade, por isso, são áreas catárticas da complexidade da condição humana que geram caminhos de insight da nossa natureza. Estes caminhos derivam de percursos individuais e terão um impacto inicial relativamente limitado na sociedade, mas a sua reflexividade vai acabar por se expressar em inúmeros campos e fazer parte dos seus processos de dar conta e abertura criativa.

 

O caminho da arte clarifica bem essa autorreflexão cíclica sobre as condições no interface eu/mundo que, nas suas respostas originais, ao longo do séc. XIX e XX, vai expressando os patamares de um insight que se dirige para a origem do criativo e a realiza na não dualidade de tudo como arte. Nos estímulos das obras há essa liberdade e sabedoria que leva a sociedade para a autorreflexão cíclica e para o dar conta que torna tudo em arte e nos iguala como artistas nessa origem.

 

O percurso da filosofia (sobretudo a continental) também vai ser marcado por um retorno reflexivo sobre as condições dos modos de estar na dialética, precedentes ou contemporâneos, logo vai dando conta dos níveis do seu próprio colapso dualizador e estabelecendo-se numa relação mais não dualista, que clarifica a problemática humana nas condições contraditórias geradas no interface eu/mundo e encontra formas meditativas de o levar à não dualidade relacional, da igualdade e do diálogo, onde todas as diferenças podem expressar as suas autenticidades e resolver as causalidades complexas, realizando o insight da relação humana e revelando o verdadeiro sentido do que o consciente está a realizar no mundo.

 

A psicologia, enquanto ciência, tenderia a ser dominada pelos processos de separação racional mas, desde logo, está na posição autorreflexiva, pois tem de assumir que está sempre na linguagem ou, na psicologia, por isso, não pode sair de si para descrever a psicologia, mas apenas pode construir uma a partir dos modos relacionais que utiliza para se entender e lidar com o outro, cuja sabedoria ou ignorância terão consequências nos modos individuais e coletivos de nos entendermos e construirmos.

 

Assim, surgiram duas grandes linhas, uma segue esta necessidade autorreflexiva, dentro da lógica de insight da nossa natureza, enquanto a outra tenta manter a separação racional que a torna ciência e tende a esquecer a dimensão relacional de uma psicologia construída dentro desses limites. A primeira, por um lado, expressa-se no caminho psicodinâmico, que evolui conforme aprofunda uma visão do canal da vida, do interface eu/mundo e das estruturações a serem abordadas terapeuticamente, dentro de certos modos de dar conta, chegando a um ponto de vista mais universal e espiritual da condição humana que, a partir dos anos 60 do séc. XX, se torna na psicologia transpessoal. Por outro lado, mais ou menos nessa altura, vai surgir a psicologia humanista que, no fundo, assume a posição não dualista do insight da relação humana a que a filosofia chegou.  

 

Estes são os caminhos tipicamente ocidentais que, com mais ou menos influência da iluminação oriental, vão estar a fomentar uma reflexividade não dualística e a abrir à lógica de insight da nossa natureza.

 

A segunda linha da psicologia, está mais condicionada pela problemática dualista da razão e seu modo de expressão nas ciências, passando pela visão behaviorista, cujos limites levaram ao surgimento da abordagem cognitiva. O behaviorismo vai ser dominante durante a primeira metade do séc. XX, limitando a psicologia à realidade interativa do condicionamento, entendido na relação entre as qualidades dos estímulos e as respostas comportamentais (input/output), não se permitindo especular sobre o que se passa internamente na interpretação. No entanto, neste modo relacional, para além de reduzir o holismo da existência no interface eu/mundo a certos tipos de condicionamento, discretos ou contextuais, não só especula como está a estabelecer um processo interpretativo, esquemático e mecanicista, que aliena as dimensões reflexivas/criativas e espirituais da nossa condição. 

 

Por outro lado, a partir dos anos 60, há uma viragem cognitiva que se vai tornar dominante e revolucionar a psicologia enquanto ciência empírica, por poder assumir a dimensão interpretativa/reflexiva entre os inputs e outputs. No entanto, esta dimensão surge como um processo relativamente mecanicista que cria e articula estruturas representativas interconectadas através de vários tipos de regras e procedimentos e, no fundo, segue uma metáfora computacional da mente e do processo psicológico.

 

Embora se mantenha nesta metáfora representativa, lógica e computacional, e tenda a colapsar a dimensão espiritual, criativa, emocional, corporal, contextual, social e a natureza da consciência, é uma abordagem interdisciplinar, entre o conjunto das ciências cognitivas (psicologia, neurociência, linguística, inteligência artificial, antropologia e filosofia da mente) que estão numa troca reflexiva de contributos e pontos de vista diferentes, onde se debate a visão reducionista do que se entende como a concretização das representações, a sua computação, evolução e, inevitavelmente, se tem de ir assumindo as dimensões colapsadas e as limitações deste paradigma.

 

Neste sentido importa dizer que a utilização da meditação mindfulness como meio terapêutico se revelou tão eficaz que gerou a atual disseminação em todos os campos, logo prevê-se que, no futuro, a natureza do “processamento” meditativo, do dar conta que resolve, e tudo o que evolui com ele, venham a transformar o paradigma no sentido da visão relacional.     

 

A ciência considera que o conhecimento é relativo e está numa autorreflexão contínua, onde avalia as teorias e modelos face aos resultados das experiências. Tipicamente averiguam-se aspetos de um modelo particular que é suportado por outros mais gerais anteriormente confirmados. A reflexão dá-se sob a condição de vários níveis de colapso paradigmático ou modelos base que, no limite, são o sentido lógico da separação entre as entidades, por detrás do corte dualista da razão e da visão realista da separação no interface eu/mundo. Por outro lado, a conceção teórica, as experiências e a interpretação dos resultados geram-se neste tipo de enquadramento condicional dos colapsos, logo tendem a não levantar uma autorreflexão sobre o mesmo. Assim, estes modelos estão fortemente estabelecidos no colapso mais terreno da nossa experiência e muito dificilmente entram na reflexão.

 

Um dos problemas deste modo de relação passa por impormos o tipo de colapso mais dualista aos diferentes níveis do real a serem estudados, onde vamos encontrar coerências e mecanismos entre entidades, mas passar ao lado ou, eclipsar os aspetos que abririam a outros paradigmas e modos de dar conta, logo à dinâmica do insight; inversamente, tendemos a converter nesse modo de colapso os problemas levantados por certos factos aparentemente incompatíveis. 

Por outro lado, neste treino relacional, estamos a construir conhecimento assegurado nessas forças colapsantes e a condicionar o nosso próprio processo reflexivo/criativo nas mesmas. Ou seja, se este processo tem o potencial de resolver toda a história universal das condições, então nem chegamos a entender bem esse potencial pois condicionamos a nossa particularidade evolutiva com o tipo de colapso mais limitado. Isto é uma forma de prisão no oposto, pois avançamos com um conhecimento seguro, mas geramos uma separação face à nossa natureza e, onde o aplicamos sem refletir ou dar conta dos efeitos desse colapso, haverá consequências mais ou menos destrutivas para nós e para o mundo. 

Portanto, a ciência considera o conhecimento relativo, mas condiciona a sua construção e a si própria num tipo de colapso tendencialmente reducionista e mecanicista, que fecha a autorreflexão nesses limites e, no fundo, tende a eclipsar a dimensão criativa do real. No entanto, como a realidade é não dualista, mais tarde ou mais cedo, surgem factos que confrontam os modelos base e a levam para uma dialética autorreflexiva mais próxima do insight, onde necessariamente há uma transformação que inclui aspetos da dimensão criativa e, por isso, da não dualidade.

A física assegura a fundação dos modelos na base do modo de colapso científico e constrói-se no sentido dualista das interações mecânicas de entes separados. No entanto, no início do séc. XX, conforme se focou nos níveis micro da existência, primeiro na luz e depois nos átomos, forças e partículas elementares, foi confrontada com a evidência da não dualidade, que é muito clara nos mesmos. No fundo, ao ter de assumir as entidades como uniões de opostos (ondas/partículas), assim como a não localidade das relações e dos seres, e as reciprocidades que o Princípio da Incerteza levanta, etc. estava a lidar diretamente com a natureza orgânica (ou harmónica) das dualidades e com as interdependências entre as polaridades opostas, ou seja, com o processo reflexivo/criativo da não dualidade.

Como sugerimos no início deste texto, esta realidade e modo de pensar têm de ser eclipsados por um colapso caótico que parece ocorrer a partir de um certo nível de complexidade das agregações. Este colapso caótico da onda do sentido surge inicialmente nas medições e levanta a questão da intervenção do observador mas, na realidade, trata-se da intervenção do paradigma dualista instalado na experiência. Portanto, o colapso é caótico nesse caso, mas assume muitos outros paradigmas harmónicos nas agregações naturais. Ou seja, apesar de tudo o que a física descobriu no plano quântico e do modo de reflexão que treina no mesmo, continua a manter um colapso que coloca a realidade macro sob o domínio da dualização do corte racional terreno. É como um insight sobre a nossa natureza que continua truncado por um condicionamento geral do pensamento e, por isso, não pode penetrar os diferentes níveis e áreas para realizar a nossa condição. No entanto, a abertura à não dualidade está a ocorrer e, para além do foco científico na integração destes dois lados, as divulgações e apropriações, que atualmente popularizam esse insight, já esqueceram o corte e idealizam modos da sua integração.

 

A biologia lida diretamente com o canal da vida, por isso, as suas descobertas são fundamentais para entendermos a nossa natureza. A matéria viva levanta todas as dimensões reflexivas/criativas que se expressam no consciente, nomeadamente volitivas, teológicas e espirituais, por isso, para ser abordada cientificamente e se poder construir conhecimento objetivo, é preciso haver isenção face a esses caminhos interpretativos culturais, logo uma separação objetivante que se foca nos processos, dentro do paradigma materialista da ciência e seus modos relacionais; reducionista e mecanicista. Esta separação foi conseguida mas, dado o modo relacional, inevitavelmente, foi-se estabelecendo um colapso sobre muitas dimensões integradoras e criativas subtis que são essenciais para o entendimento da nossa natureza. 

 

No percurso das descobertas geraram-se inúmeros insights sobre diferentes aspetos da vida que relativizaram apropriadamente certos entendimentos tradicionais e revelaram a complexidade e sabedoria, multifacetada e interdependente, dos níveis orgânicos e relacionais. No entanto, apesar dos diferentes campos estarem em pontos de vista diferentes e viverem a interdependência e sabedoria da vida de formas particulares, o paradigma de fundo estabelece um corte racional dominado pelo reducionismo dos processos e por uma visão simplificadora do sentido da vida que, no fundo, dá mais importância aos colapsos dualistas no canal da vida, ligados à luta pela sobrevivência e ao próprio corte racional, do que aos valores expressos pelas ordens orgânicas e pelo caminho das evoluções.

 

Esta visão paradigmática chegou a uma resolução e síntese a partir de Darwin, levantando o debate que vem até aos nossos dias. A árvore da vida foi assumida com um sentido evolutivo, derivado de uma ou várias formas iniciais, geradas por um Criador, que se vão transformando em outras através de pequenas variações, ditas naturais, por isso, mais ou menos com um sentido resolutivo, preservando-se aquelas que sobrevivem às forças de uma seleção natural e, reproduzindo-se, continuam o mesmo processo.

 

Ao incluir o homem neste processo, Darwin gerou um insight importantíssimo para a reflexividade sobre o nosso sentido de separação/superioridade face aos outros seres e de posse da criação, nomeadamente, abriu a possibilidade de podermos vir a entender melhor a nossa particularidade evolutiva, encontrando assim o sentido da evolução da vida que revela a nossa natureza. No entanto, inversamente, a visão seletiva também favoreceu uma prisão no oposto que colapsa a nossa particularidade evolutiva em vários sentidos, fomentando, por exemplo, a lógica da superioridade do mais evoluído/adaptado (colonialista, racista, etc.) ou a que continua por detrás da estruturação competitiva dos diferentes níveis do processo social, mas também uma aproximação aos outros animais e à natureza que pretende retornar a uma condição mais instintiva, etc. Ou seja, essa prisão no oposto leva ao esquecimento de que a nossa particularidade passa precisamente pela capacidade de nos igualarmos aos outros e, a partir daí, transcendermos as forças colapsantes da seleção natural, as fixações instintivas e todas as outras condições.

Conforme a biologia avançou na descoberta da estrutura genética e a tornou na base fundadora do seu reducionismo, este paradigma gerou um colapso radical que anula qualquer dimensão reflexiva/criativa na natureza e, no fundo, entra num paradoxo, ou prisão no oposto que leva ao processo autorreflexivo atual. O neodarwinismo assume que as variações naturais dos seres derivam de mutações aleatórias dos genes, “erros”, que se tornam positivos ou negativos no processo de seleção natural. Portanto, nada na evolução é uma resposta reflexiva/criativa às condições, e o caminho da vida foi sempre assim, ou seja, a vida surgiu de um processo que, aleatoriamente, criou moléculas mais complexas, que foram selecionadas e geraram o ADN e os outros fatores, na coemergência que leva à célula, aos organismos, à vontade e a todas as dimensões existenciais, à inteligência de todos os níveis e seres e ao consciente reflexivo/criativo que resolve dando-se conta das condições… No limite, a seleção natural inicial só pode ser uma mão invisível que se orienta pelo modelo da vida.

 

A biologia é tão importante que, se nos levar ao entendimento profundo da natureza meditativa da vida, deixará de haver uma separação entre o eu do entendimento e a realidade da nossa natureza, gerando-se o interface para o insight final se desencadear espontaneamente em todos os seres humanos. É esta potencialidade que levanta um último sentido para o que chamamos de insight biológico. Ou seja, conforme formos entrando numa reflexividade não dualística e chegarmos a uma visão clara sobre a meditação do processo evolutivo universal, nomeadamente a da biologia, entenderemos a nossa particulariedade e estaremos a estabelecer um interface que permitirá a eclosão espontânea do insight final.

 
No entanto, a visão reducionista da biologia tende a levar-nos para a posição oposta, gerando um colapso separador entre o eu e o “seu” organismo, que o condiciona com os níveis dualísticos do canal da vida, obliterando as subtilezas da integração orgânica e a visão meditativa que clarifica a continuidade do processo reflexivo/criativo e abre à potencialidade infinita da nossa natureza. Estamos separados de uma natureza orgânica, possuída como se fosse um conjunto complexo de mecanismos, que se revela frágil e irracional, em parte, pela ação desse colapso separador que não entende a sua meditação e reforça os dualismos a serem resolvidos. 

 

Na visão neo-darwinista o mecanismo da vida perdeu a capacidade reflexiva/criativa e é dominado pelo determinismo das “informações” contidas nos genes, assim como pelas mudanças aleatórias dos mesmos e pelas forças seletivas. Nós somos a consciência reflexiva/criativa mas estamos nesta condição, como que sob a pressão das forças seletivas, separados e sujeitos a uma natureza determinística, esvaziada de uma ligação à consciência, sujeita à aleatoriedade e presa nas suas fragilidades e irracionalidades. Assim, conforme chegamos a reduções mecanicistas da sabedoria e interdependência dos processos, a separação torna-os algo instrumental sob o nosso domínio dualista e ganha um sentido de superioridade, onde parece que a inteligência e, por isso, a consciência implícita nas ordens estão do lado de quem as descobre e passa a poder mobilizar, e não na natureza e suas partes. O perigo deste colapso, que torna a natureza num mecanismo, pretendendo dominá-la, mobilizá-la e alterá-la de forma instrumental, passa pela potencial fixação de um sentido redutor da vida e pela mobilização da componente genética com uma visão incompleta das suas subtilezas. 

 

No entanto, desde o início, o clímax da redução mecanicista que seria o determinismo genético, revelou-se uma ilusão, logo, de certa forma, um chegar ao oposto que gradualmente se tem concretizado: porque não se trata bem de “informação” para construção, mas de resoluções relacionais que implicam todos os sentidos que vão gerar e só se operacionalizam com um sentido vivo (enquanto proteínas), num processo meditativo com as ondas subtis da água que as levam a assumir formas harmónicas complexas muito precisas; porque os genes são apenas 2% do ADN e poucos para determinarem de forma discreta as inúmeras caraterísticas do ser vivo; porque o processo do ADN se revela cada vez mais complexo e meditativo; porque é necessário um modelo dinâmico para articular todo o processo de forma reflexiva/criativa, que em parte estará nos 98% não codificadores de proteínas, mas também em componentes epigenéticas e outras mais subtis, que interagem com todas as outras dimensões da vida: alimentares, comportamentais, conceptuais, emocionais, espirituais, etc. 

 

Assim, no que genericamente chamaríamos de paradigma epigenético, o processo da vida torna-se uma grande meditação ou dinâmica reflexiva/criativa, onde todas as componentes interagem dentro de certos processos de interdependência, e o sentido da separação está-se a resolver nos caminhos que descobrem essas interdependências e as suas integrações subtis. Já não estamos sujeitos a uma separação, mas a transcendê-la na nossa ciência pessoal do entendimento, das práticas do dar conta e da regulação dos hábitos, onde apuramos o sentido da interdependência de todas as componentes relacionais e, por isso, a não dualidade dos valores da vida. Esta evolução abriu a uma integração mais alargada e inteligível dos caminhos da iluminação oriental, que trazem os enquadramentos paradigmáticos e os meios de entrada em fase com a meditação biológica, permitindo uma experiência mais direta das dimensões subtis da vida, que passa a ser a fonte reveladora e transformadora das interdependências.

 

O conhecimento biológico está a ser integrado nesta visão da vida como uma grande meditação, onde transcendemos cada vez mais separações, por exemplo: ao entendermos melhor a comunidade gigantesca de seres que habitam connosco (a microbiota) e participam em todas as nossas valências reflexivas/criativas; nomeadamente, conforme temos um sentido cada vez mais detalhado das interdependências de todos os fatores ambientais, dos seres, dos seus modos de vida, contributos e processos conscientes, que se refletem face ao colapso gerado por nós, revelando uma prisão no oposto, cheia de contradições, que nos coloca de forma última perante os valores e a verdade da nossa condição. A visão meditativa desperta-nos para a nossa natureza como resolução e mostra claramente como nos envolvemos no problema a resolver e o tornámos numa prisão muito complexa no oposto, que exige a renúncia de muitos hábitos antigos, o empenho consciente e a entreajuda sábia de todos, para chegarmos a um novo modo de estar na meditação planetária da vida. Esta transição pode ser a do insight final, mas também pode prender-nos no caos e na destruição. 

 

Portanto, a biologia está a fazer um percurso para a não dualidade em sincronia com a evolução da sociedade, que também o faz a partir da assimilação de caminhos semelhantes nas diferentes áreas e, nomeadamente, das transformações derivadas da sua dialética reflexiva ao longo dos últimos dois séculos.

 

Se pensarmos no mundo a partir do Romantismo, temos a Europa como a superpotência que, a todos os níveis, assume uma superioridade imperialista face aos outros povos. Estes vão sendo forçados a mudar ou são escravizados e até exterminados pelos nossos imperativos económicos e preconceitos. Internamente, a situação é muito conflituosa, dados os mesmos imperativos e as tensões dualistas derivadas do colapso do Antigo Regime e da Revolução Industrial. A sociedade está em transformação, mas continua montada na diferenciação social e vai levar o povo para um colapso maquinal que quase o escraviza. 

 

A partir do Romantismo o pensamento vai ser cada vez mais influenciado pelas metáforas orgânicas, no entanto, estas estarão sempre sujeitas a um colapso mecanicista que não vem só das forças separadoras da razão, mas sobretudo da máquina. As máquinas que, no fundo, são metáforas do orgânico, simplificam a resolução das tarefas e das necessidades, abrindo a um novo sentido da abundância e a um mundo dominado pelo seu modo de colapso, facilitador/destruidor, no sentido de maquinal, inorgânico, não reflexivo, etc.

 

Tal como a agricultura trouxe uma abundância que foi sendo gerida de forma desigual nos eixos da separação social, também a máquina abriu à possibilidade de uma enorme abundância que se foi concretizando nesses eixos e impondo um colapso complexo sobre o processo psicológico, sociológico e a natureza, que continua a lógica dualista do corte racional.

 

A partir do Iluminismo, a sociedade foi cada vez mais pensada como um sistema orgânico, onde o homem pode realizar a sua natureza, através de uma visão dos valores da vida (liberdade e igualdade) e da gestão racional das interdependências entre todas as partes e das contradições éticas entre o económico e o sociológico. Esta reflexão suscitou a necessidade da democracia e gerou os pontos de vista, liberal e depois socialista, como caminhos de uma resolução não dualista destas dimensões. No entanto, ambos os pontos de vista tendem para prisões em opostos: o liberal por favorecer a continuidade dos diferenciais preestabelecidos e a sua autoridade, enquanto o socialista por gerar uma máquina burocrática, cujo peso e potencial corrupção dificultam a implantação dos valores mas, sobretudo, porque para assegurar a atualização linear do projeto tende para o autoritarismo. Portanto, o caminho resolutivo passaria por uma luta entre estes opostos, que limitou ambos os lados, e pelo encontro de um modo mais dialético de os integrar numa autorreflexão, democrática e em evolução, que lida com estas duas tendências e vai permitindo uma meditação transformadora, através da expressão dos vários níveis de filtros que se levantam à realização dos valores. 

 

No entanto, em grande medida, a dialética reflexiva, que foi levando à atualização dos valores, teve de ser feita à força. Dadas as tensões colapsantes do imperativo económico e as cegueiras racionais da construção da história, as máquinas imperiais, mais ou menos nacionalistas, foram-se concentrando numa competição conflituosa que acabou por desencadear a Primeira Guerra Mundial e, em consequência desta, a Segunda Guerra Mundial. No final ficou a destruição e um sentido de fim da loucura do ego, nacional e individual, assim como a necessidade de assumir a igualdade, a interdependência, o diálogo e a entreajuda, concretizada no processo da descolonização, na ONU, na União Europeia, etc. Mas, também ficou um dualismo base (capitalista/comunista), que nos fecharia no medo da destruição planetária, a investir cada vez mais nessa capacidade de destruição, assim como nas forças bloqueantes da reflexão, estabelecidas pela separação competitiva dos modelos e suas visões simplistas da bondade/malignidade.

 

Os anos 50 foram um tempo de reconstrução e retorno à lógica da sociedade de consumo, da ascensão social e da excitação pela posse dos novos meios facilitadores da vida, que projeta um sentido de progresso continuo, dentro da clausura das forças conservadoras da cultura e seus preconceitos normalizadores. Proclama-se a liberdade e o progresso, sob o controlo de um colapso relacional relativamente conformista, que idealiza a bondade dessa vida e castra a reflexão sobre as contradições e hipocrisias do sistema. Por outro lado, na música, na expressão do estilo individual e na luta pelos direitos dos negros norte americanos, já estão em marcha os processos que vão definir os ciclos reflexivos a partir daí.

 

Os anos 60 estabeleceram uma viragem autorreflexiva, que assume a liberdade em todas as suas dimensões, para ver e confrontar o caminho da máquina racional da modernidade e as suas prisões em opostos. A nova geração (de americanos e europeus) vai desenvolver um sentido existencial da liberdade, onde todos os colapsos estruturantes das forças socioculturais se vão refletir e mostrar a sua convencionalidade, despertando um movimento crítico e criativo que não pretende a melhoria de algumas condições, mas a transformação total do sistema. É um processo de insight, onde o dar conta se mantém a partir do sentido existencial dos valores, gerando um devir transformador, individual e coletivo, que abarca todos os temas e facetas da realidade. Esta dinâmica reflexiva/criativa está a expressar a consciência e vai integrar todos os caminhos críticos e catárticos (ancestrais, da modernidade e das outras culturas) num processo de auto-conhecimento, de experimentação e expressão criativa, inseparável do debate, do ativismo, da união das vontades e da confrontação, onde se transcendem as fronteiras dos colapsos paradigmáticos e se descobre o sentido não dualístico dos valores e a nossa natureza mas, obviamente, também se gera uma prisão no oposto, derivada da ingenuidade, dos excessos e do radicalismo, que continuam na década seguinte.

 

No entanto, este movimento, onde o espiritual, o filosófico, o artístico, o político, o sociológico, etc. são aspetos da unidade do dar conta, inicia uma transformação estrutural através dos temas que, gradualmente, se foram tornando mais importantes para todos, inevitáveis, assumidos nas diferentes áreas e na base do processo psicológico e sociológico atual, nomeadamente: o ambientalismo, a inteligência ecológica e a reciclagem, o retorno à natureza, a construção de alternativas à sociedade atual; a problemática dos imperativos capitalistas, o consumismo, a alienação e a destruição da vida, a guerra e o investimento no nuclear, o bloqueio institucional dos valores e a corrupção; as desigualdades femininas, entre classes, etnias, das minorias, entre os povos e a fome; assim como, a reforma da educação, da família, a adolescência, a vida adulta, a liberdade sexual, os géneros; o sentido do trabalho, a arte, a auto-criação, a liberdade de expressão, o altruísmo, o potencial humano, o autoconhecimento e o sentido espiritual da vida, etc.

 

Assim diríamos que os anos 60 geraram um processo de insight que, de forma integrada, expressa todos os caminhos reflexivos sobre a mudança necessária à concretização do potencial humano. É um insight contracultural, montado num sentido existencial dos valores que, por isso, mobiliza todo o canal da vida e, gradualmente, vai evoluir e ser assimilado na dinâmica cultural, através de processos dialéticos com os seus opostos, onde o insight se institucionaliza e as diferentes áreas entram numa meditação autorreflexiva sobre as suas estruturações. Essa evolução foi acontecendo em fase com a globalização e, no fundo, é a componente unificadora que a torna um canal da vida a entrar num insight.

Nessa dialétiva, a lógica da sociedade de consumo, enquanto o grande motor da cultura atual, vai penetrar todas as áreas e avançar para o hiperconsumo, colapsando sistematicamente os modos relacionais na grelha simplificadora do marketing e gerando uma estrutura discursiva mundial: da relação interesseira, da razão instrumental, da realização materialista, da ascensão social, do hedonismo individualista, etc. que, gradualmente, se torna mais reflexiva, à medida que os consumidores se cansam de dar conta desse modo de relacionamento e buscam a autenticidade, assim como pretendem gerar a identidade em valores e sentidos importantes para a mudança pessoal e mundial, nomeadamente espirituais.

As organizações também vão ter de entrar numa meditação, sobre as suas estruturações e os modos de colapso do potencial humano, para se tornarem mais adaptativas e criativas face às condições da sua interdependência e contingência contextual. A componente humana, a motivação e a sua capacidade sinérgica de resolução (o potencial social) vão-se tornando o aspeto chave, levando à gestão pela cultura, pelos valores, à importância da responsabilidade social, da ecologia humana e ambiental, etc., dentro de uma consciência ética e criativa que participa na resolução dos problemas locais e mundiais.

 

O final dos anos 80 e o início dos 90 vão ser marcados pela dissolução do filtro reflexivo gerado pela separação entre capitalismo e comunismo. A partir daí não há idealismos de um ou do outro lado, estamos no capitalismo e temos de nos dar conta das suas limitações e consequências. Na mesma altura, sob a influência do percurso não dualista da filosofia e da arte, o dar conta existencial das estruturações vai tornar-se mais sofisticado e olhar para a realidade como um texto ou conjunto de discursos, que estão subtilmente estruturados em todas as problemáticas dualistas, condicionando as possibilidades do sentido e o colapso consciente. Esta visão leva a um novo ativismo que não passa pela dualidade do confronto crítico, mas por levar os textos, objetos, etc. a uma situação não dualista, onde se tornam seres do insight ou arte, pois refletem espontaneamente as suas/nossas convencionalidades e não fecham o sentido numa direção, antes mantêm a liberdade criativa da sua construção. O pós-modernismo foi mal entendido pelas forças estruturantes e visto como um relativismo, mas foi um primeiro treino mais alargado de uma dimensão importantíssima para a situação atual, um tipo de aproximação à não dualidade, que mantém o dar conta no espaço criativo do sentido e evita a prisão no oposto: nos esquematismos e extremismos.

 

Conforme nos aproximámos do fim do milénio a tendência de viragem para o sentido espiritual da vida tornou-se mais abrangente e aprofundou-se em torno de diferentes visões e práticas gerando um movimento cada vez mais importante nas décadas seguintes. Por outro lado, iniciou-se a revolução tecnológica, sociológica, económica, comunicacional, relacional e, nomeadamente, do conhecimento que define a etapa atual da globalização.

 

A partir do ano 2000, a realidade será cada vez mais influenciada pela mundialização da Internet, pela sua evolução interna e integração nas comunicações móveis, que geram uma revolução a todos os níveis, marcada pela dissolução de inúmeras separações e seus modos de colapso, logo pela libertação do dar conta. Fomos criando um mundo virtual que converte o real num sentido mais comunitário (local/mundial), fundado precisamente na liberdade, na proximidade e na lógica do fim das separações, da dádiva, da partilha, da facilidade de acesso, da presença a todas as realidades, da abertura a todos os níveis do conhecimento e perspetivas, da interatividade, reflexividade, criatividade, etc. Apesar de todas as dominâncias comerciais, dos vários tipos de filtros, das complexidades éticas, etc. este mundo virtual continua a ser um espaço que concretiza esses valores.

 

Esta dinâmica valorativa, desde logo, reflete-se no mundo real e investe o sentido do eu/mundo que passa a definir a nossa postura relacional base. Assim, cada um (hoje em dia, cerca de metade da população mundial), faz as suas ofertas, pesquisas, interatividades, etc. mais ou menos dentro destes valores, em percursos muito variáveis, mas depara-se com a novidade, a diversidade, a simplificação, os níveis de correlação entre os assuntos, as perstetivas integradoras dos mesmos, os caminhos evolutivos do conhecimento, a comparação reflexiva entre os pontos de vista, a convencionalidade dos mesmos, o main stream e o alternativo, os modos relacionais típicos, o autêntico e o forçado, a correlação entre os modos relacionais e a sabedoria dos conteúdos, a  possibilidade de aprofundamento, de ramificação, etc. Uns fazem percursos mais restritos, outros mais vastos e profundos, mas em todos eles há uma vivência de muitas destas dimensões relacionais e um treino do dar conta que gera e pequenas transformações pessoais. Aliás a realidade virtual, em cada mensagem e nos processos reflexivos entre estas, está sempre numa lógica de insight que pode ser mais prático ou lúdico, crítico ou existencial e sobretudo autêntico ou enganoso, filtrado ou a partir dos valores. Um aspeto importante passa pela capacidade de gerir formas de relação informais e expressivas que dissolvem separações e desigualdades ao mesmo tempo que asseguram a qualidade e os detalhes de assuntos mais ou menos complexos, sua conexão com outros, etc. Isto ocorre dentro de uma comparação competitiva entre muitas ofertas, que estão em evolução dentro destas exigências, tornando-se um padrão generalizado. 

 

Portanto, ao longo dos anos de treino e reflexão do mesmo, nas interações e projetos reais e virtuais, parece haver uma tendência evolutiva de todas estas dimensões, uma resolução relacional das separações, a crescente interconexão dos assuntos, a operacionalização do apreendido, das novas visões, etc. Assim como a tendência para querer conhecer mais, para estar a par de todo o tipo de assuntos e visões do real e, nomeadamente do sentido espiritual do insight, o dito despertar do consciente, que perdeu separações e tabus e surge em muitos pontos de vista específicos e modos relacionais diferentes, mas também de forma mais ou menos evidente em inúmeras temáticas de muitas áreas.

 

Como já sugerimos, todos os humanos estão subtilmente ligados e, por isso, sempre estiveram numa meditação conjunta, que se foi integrando nos últimos séculos e chegou ao momento globalizador atual. Tendo em conta tudo o que vimos nas evoluções do pensamento e a sua abertura atual, aprofundamento e interconexão, assim como, as trocas informativas na aldeia global, diríamos que, o conjunto dos eus/mundos, nos seus entendimentos, aperceções, vivências, transformações pessoais, atos, etc. estão a gerar um grande processo de insight num mesmo canal da vida.

 

A globalização foi evoluindo desde o Renascimento até chegar ao ponto em que, cada vez mais, nos definimos e evoluímos na consciência de estarmos na mesma sala de meditação mundial, onde cada um faz a sua evolução do dar conta, por muitos caminhos, face a uma realidade pessoal/global multifacetada, que traz à visibilidade todas as complexidades estruturais e pontos fixos da história, mostrando as causas das problemáticas de sempre, tal como elas são, e obrigando-nos a assumir de forma cada vez mais séria o caminho e os meios sábios dos valores da vida.

 

Lembremo-nos de que o consciente é como um texto, onde o devir subtil da consciência concretiza os valores em ideias, insights e realidade, em dependência das forças colapsantes superficiais no canal da vida, ou seja, do modo como nos damos conta das mesmas. O conjunto dos humanos forma um canal da vida, onde a consciência está a evoluir com o dar conta de todos, que se faz de inúmeras formas e dominâncias. No entanto, podemos dizer que, neste canal mundial, o consciente de uns está a recriar mais as forças do colapso dualista, outros já estão mais numa lógica de insight, outros já estão muito evoluídos na mesma e outros ainda já estão na realização final.

 

Isto não quer dizer que uns são melhores ou piores, a realidade é que, em termos subtis, o canal da vida é apenas um, e todos nós somos a sua resolução a partir de um ponto de vista particular e estamos mais ou menos envolvidos com o problema que nos é dado a resolver: a história do sofrimento da vida. 

 

Todos somos a resolução encaixada no problema, a descobrir os meios da sua perfeita eclosão e, dada a nossa ligação total, em termos subtis: as evoluções de uns estão sempre com todos os outros, nomeadamente as dos que já passaram a encarnação de forma mais ou menos iluminada, a serem mais ou menos colapsadas pelas nossas próprias dificuldades dualistícas; e as ativações do problema, feitas por uns, também estão sempre em todos, a gerarem dificuldades e a tendência de reativação. A nossa correlação tem esta complexidade, portanto, na sala de meditação mundial, ninguém está livre da problemática, apenas num modo mais ou menos consciente, subtil e espontâneo de a resolver ou num envolvimento mais complexo com a mesma.  

 

Nesta meditação o aspeto mais importante é o dar conta, que ocorre de muitas formas, mais ou menos filtradas, mas correlacionadas. A correlação é um fator importante na evolução do dar conta. Por um lado, interagimos com muitas realidades que nos levam a diferentes modos de dar conta e vão gerando uma integração reflexiva/criativa que nos mantém numa certa lógica de insight. Conforme o conhecimento e o dar conta evoluem, apercebemo-nos melhor das subtilezas dos modos relacionais e da construção do sentido, logo o processo evolui.

 

Como vimos, ao longo de todo este texto, o dar conta é a dimensão reflexiva que gera respostas e resoluções, tanto no sentido da transformação interior das nossas estruturações, quanto externas, nas atitudes relacionais, nas interações, nos projetos, pesquisas, etc. Estas dimensões não são separáveis e evoluem em conjunto, num mesmo processo resolutivo dos níveis estruturais do canal da vida, que é sempre a consciência a poder expressar-se melhor ou, a integração biológica subtil a penetrar esses níveis com a sua sabedoria. Esta resolução, mesmo que infinitesimal, é sempre a plenitude da integração biológica e, por isso, é vazia, expressando-se como o espaço da abertura relacional e a não manifestação de aspetos constrangedores, que permitem ter outra consciência das realidades ou, outro modo de dar conta. 

 

Estas resoluções ou evoluções do dar conta estão a propagar-se e a transformar-se em todas as formas da interação mundial e, dada a ligação subtil entre os humanos, estão no espaço, a chegar a todos. O processo da globalização faz com que as estruturações da problemática mundial estejam a expressar-se, a ser vistas e abordadas dentro deste processo evolutivo do dar conta, de formas objetivas que implicam alguns de nós ou muitos e tendem a chegar a muitos mais. Tudo isto ajuda a evolução do processo que, na sua dimensão subtil, diríamos na “internet existencial”, está instantaneamente a trazer as resoluções a todos e, como vimos, a reativação mundial da problemática (do colapso dualístico) que cada um faz, de formas mais ou menos gravosas, também está no espaço a chegar a todos. 
Portanto, nas suas reflexões e interações, todos estão a resolver ou a complicar questões mais ou menos pessoais e locais mas, na realidade, sempre a mobilizar a resolução ou a problemática mundial e universal.

 

Vamos pensar a partir de uma escala simplificada dos modos de estar no insight, no sentido de entendemos melhor algumas correlações entre os contributos de todos, para o processo evolutivo do dar conta individual e a concretização do insight mundial. Os que estão num dar conta mais dualista são os que mais reativam a problemática em termos objetivos e subtis, mas estão face a uma interatividade que os obriga a refletir e vão integrando infinitesimalmente os diferentes níveis de resolução que estão a receber subtilmente. Os que estão na evolução do dar conta de forma mais ou menos dualista contactam com vários níveis objetivos do dualismo e da resolução e podem dar contributos objetivos e subtis que são importantes, nomeadamente para os primeiros, e vão integrando novos níveis da resolução vazia que lhes chega e ajuda na reflexão em que se abrem à sua natureza. Os que já estão mais na dinâmica do insight estão a participar no processo com um dar conta mais subtil, que permite entendimentos clarificadores do processo mundial e do que estão a receber, em termos de ativação da problemática e da resolução, e participam objetiva e subtilmente com os meios gerados nesse dar conta em evolução. Os mais avançados na lógica do insight já estão a dar conta dos padrões de todo o processo mundial de uma forma mais simples e, de forma apropriada, vêm as convencionalidades das abordagens dos outros níveis, lidando sábia e diretamente com o processo subtil da resolução/problema que lhes chega, embora ainda o possam entender de um modo parcial. Finalmente, os que estão no insight final vivem a unificação do objetivo e do subtil, por isso, dão-se conta de todos os tipos de convencionalidades de forma subtil e vão entendendo-as numa resolução não dualista, onde abordam espontaneamente tudo o que lhes chega.

 

Esta interdependência está gradualmente a gerar um processo mundial de insight, onde as dimensões subtis vão estando mais presentes no olhar de todos e se vai estabelecendo um interface que, se houver condições para o seu aprofundamento, num futuro mais ou menos longínquo, pode levar à eclosão da etapa do insight final em todos os seres humanos.

 

Em 2016, ainda sem ter uma consciência muito clara de todo este processo, inesperadamente tive a prova empírica da tese do insight biológico, de que, um entendimento aprofundado da biologia e da evolução do universo, enquanto um mesmo processo meditativo, podia resolver a separação entre o eu consciente e a realidade da sua natureza, libertando-a para a fase da meditação espontânea sobre todas as estruturações pessoais e mundiais.

 

Nos anos seguintes houve uma transformação reveladora dos sentidos mais subtis do processo meditativo universal, da vida e da nossa história, que clarificou o sentido do insight mundial estar a caminhar para a fase final mas, em 2018, como que em oposição às minhas expetativas e dúvidas, fui levado ao entendimento mais inesperado de sempre: o interface mundial tinha entrado nessa fase e, na realidade, a partir daquele momento, todos os seres humanos estavam a viver o insight final! 

 

Apesar de tudo o que já tinha pensado, intuído, vivido e observado no mundo, pareceu-me e ainda parece ser muito difícil de entender. Será que está realmente a acontecer? Isto terá de ser esclarecido por cada um…

 

O que posso dizer é que, até essa altura, os insights finais surgiam tendencialmente em percursos de grande dedicação e aprofundamento, nomeadamente, dentro dos caminhos das tradições espirituais, onde há um historial dessas realizações, e evoluíam espontaneamente por certas etapas. Neste caso ocorreu a todos nas condições diferenciadas de cada um, mais ou menos desligadas de uma tal possibilidade e, por isso, a evolução é menos linear e contínua, dependendo dos condicionamentos pessoais e globais.

 

O início do processo pode ser entendido como uma resolução generalizada do encaixe com a problemática da vida, que cada um estabelece após o nascimento. Essa resolução estrutural trouxe um vazio interno, uma paz, liberdade e sentido de fim das separações que está a dinamizar o processo, trazendo à experiência (corporal, mental e emocional) as estruturações pessoais que construímos ao longo da vida, em dependência do modo como nos envolvemos com essa problemática. Estas estão a expressar-se numa ordem causal particular e de um modo resolutivo dito fruição, em que basta serem vistas e entendidas neste sentido para se integrarem na ordem biológica subtil. A resolução das estruturações pessoais implica também as no espaço mundial que estão assim a ser trazidas ao de cima ou ao dar conta. 

O que vem ao de cima são estruturações complexas ou problemáticas, tal como são e, por isso, em ambos os casos levantam-se as dificuldades derivadas dos modos parciais como as abordamos, ou seja, sem o verdadeiro sentido do seu processo espiritual. Logo há a tendência para serem reativadas alienadamente, corrigidas, escondidas, etc. o que é muito perigoso numa dinâmica espontânea de insight. Por outro lado, dado o que já se resolveu em termos subtis, há o vazio da integração, a confiança e liberdade que, tendem a não ser entendidos no seu verdadeiro sentido, mas face aos restos dualísticos que ainda não entraram em fruição, onde a identidade tenta preservar as formas antigas de se conceber e agir, acabando por se envolver com os padrões complexos em fruição. O resultado é uma certa tendência para os extremismos, para o colapso simplista, a superficialidade e mesmo para uma liberdade que implementa o extremo e todas as complexidades e enganos, sem qualquer sentido da sua ignorância, e se mantém nesse primarismo com o apoio dos que sustentam esse tipo de colapso. 

O extremismo deriva de um modo de estar na realização, que bloqueia o seu devir na certeza dualista da sua definição e na separação categorial, ficando preso no oposto, no colapso das forças do que ainda não foi visto, nem consegue ser visto. Isto faz com que baste haver o indício de um lado para ele ser assumido dualisticamente como o extremo, o que torna as relações muito difíceis, colapsando a possibilidade de entender o outro, de viver o processo do sentido para além dos esquemas fixos, impedindo as trocas dialéticas que o alimentam e resolvem não dualisticamente.

Ou seja, o insight mundial está a passar por uma fruição complexa dos padrões problemáticos, a fragmentar-se e a gerar bloqueios que nos colocam numa situação apocalíptica, onde temos de assumir a seriedade do processo, de aprofundar o entendimento da sua natureza espiritual e de deixar que os restos dualísticos, em todas as áreas da máquina que criámos no mundo e em nós, para nos libertarmos, sejam transformados com esse sentido. Se entendermos bem a realidade do que se está a passar, o vazio, a paz, a liberdade, etc. serão vividos no que são e cairemos todos naturalmente em nós… No devir sábio da nossa natureza que, espontaneamente,  nos levará à visão do verdadeiro sentido da vida, terrena e eterna, à reformulação da parcialidade dos imperativos atuais e à mobilização do conhecimento e de todos para a realização da transição que, inevitavelmente temos de fazer.

Neste momento já somos um único organismo, cujo ADN é a natureza última do insight, logo temos de o entender bem, para não transformarmos os diferenciais vividos, em fragmentações e complexidades que se somatizam e levam à nossa destruição. Se isso ocorrer faremos uma transição em muitas dimensões, nomeadamente a ecológica, e estaremos a completar o insight final que, em termos objetivos e subtis, resolve a história da vida e do universo, abrindo a uma nova etapa da existência. O que tudo isto implica é ainda difícil de definir, mas devemos lembrar-nos dos grandes da história, que nos revelaram qual é o verdadeiro potencial humano.

Neste sentido, importa dizer que, para além, de todos os diferenciais, fragmentações e distorções gerados pelos imperativos atuais, há uma noção de processamento de informação que se vai tornando dominante e, subtilmente, continua a problemática reducionista e mecanicista, colapsando o sentido da vida e da humanidade na meditação evolutiva universal.

Na sociedade atual, cada vez estamos mais envolvidos com interfaces informáticos e as suas resoluções automáticas, por outro lado, temos de lidar com muitas mensagens, grande parte construídas num modo relacional informativo, apesar de enriquecido pelas componentes multimédia. Portanto, temos um grande treino da simplificação informática e deste modo de extração e articulação de informação. Estes treinos geram uma dimensão sistematizadora das relações que, juntamente com a visão cognitiva, neurocientífica, genética, física, etc., de que o cosmos, a vida e o consciente podem ser reduzidos à metáfora do processamento de informação que atribuímos aos computadores, gera uma dinâmica ou regime de colapso maquinal do processo da significação e uma fragmentação relacional, que naturaliza essa metáfora e contribui para a problemática atual da prisão nos modos dualistas superficiais do canal da vida.

 

No entanto, nós não somos processadores de informação, mas seres vivos conscientes, gerados no caminho evolutivo da meditação universal, que sentem e geram sentido de forma reflexiva/criativa. Isto não tem nada a ver com o que os computadores fazem. Os computadores não geram significado, antes articulam representações de uma forma pré-estabelecida para que tenham sentido para quem as interpreta. Podemos tentar recriar articulações computacionais (lógicas, probabilísticas e conexionistas) que são metafóricas do processo do significado mas, na realidade, estão apenas a trabalhar com essas representações de forma mais complexa, mas isso não é o significar. O computador é e será sempre uma metáfora simplificada do que somos, logo devemos dar-nos conta da convencionalidade da mesma, para que não colapse a forma como nos definimos ou a possibilidade da nossa definição.

 

Como vimos, o significado surge em dependência do devir no modo relacional e de todos os factores que o condicionam: pessoais, contextuais, históricos, etc. Nós nunca saímos do significar e podemos abordar isso de todas as formas possíveis, ou seja, criar significado dessas formas, mas nunca saberemos bem o que é o significar, pois estaremos sempre a transitar na significação, a vivenciar os seus efeitos significativos, a gerir o surgimento espontâneo e a nossa ação no mesmo, que também são significativos, por caminhos mais ou menos habituais…

 

Podemos gerar significado de muitas formas e até achar que é algo fixo e objetivável numa combinação de referências, mas durante todo esse percurso estamos no pragmatismo do significar, dentro de um modo que, simultaneamente, suscita o seu oposto, se gere no mesmo e, na realidade, só tem significado através dele. Se algo só se define a partir do seu oposto e vice versa, o significar ocorre sempre nas reciprocidades da unidade orgânica da dualidade e é o estar nessa interdependência com mais ou menos sabedoria, ou seja, o realizar da não dualidade. O significado surge em dependência do modo relacional e da evolução reflexiva/criativa do mesmo, o dar conta e as respostas resolutivas biológicas, que são sempre a gestão possível do estar nessa sabedoria da não dualidade. Assim diríamos que a significação é o processo consciente na sua expressão valorativa das estruturas do canal da vida, que o vai abrindo à consciência conforme se dá conta das mesmas e as resolve. 

 

Neste sentido, o significado é um processo existencial da vida ou, a totalidade da relação a acontecer, implicando todas as dimensões da existência e a sua história. Em cada momento do sentido estão a ser mobilizados ou a participar todos os níveis relacionais e as forças colapsantes, numa dinâmica reflexiva/criativa que concretiza o colapso particular do significado e age sobre essa história relacional: cósmica, da vida e do consciente. O sentir, o sentido e a significação são a consciência a expressar a sua natureza sob as condições de uma dinâmica de colapso mais ou menos reflexiva, logo a poder mostrar a sua história e a despertar as respostas recíprocas que trazem a resolução não dualística da mesma, no dar conta presente ou nos caminhos dialéticos da reflexão posterior. 

Por outro lado, as representações expressivas como os textos, os desenhos, fotos, pautas, filmes, etc., apenas por existirem, mesmo sem a presença de um intérprete, em termos subtis, também implicam sempre a totalidade do processo relacional da significação, enquanto atividade virtual no espaço das relações, a mobilizar a resolução dialética do real. 

 

Para concluirmos, lembraríamos que a vida é um colapso harmónico local da sabedoria subtil do vazio criador, que vai completando a evolução universal, ao trazer essa consciência a todos os níveis do espaço. Esta missão não é nada fácil, é mesmo a grande meditação da compaixão universal, pois, desde o início, a vida teve de lidar e de se definir através dos outros modos de colapso, gerando um diferencial existencial que foi sendo resolvido no processo reflexivo/criativo da evolução das espécies e do consciente.

 

O sentido último da vida e do consciente passa pelos modos como agem no real a inúmeros níveis, mais objetivos ou subtis, para realizarem a sua missão universal. Desde logo, a existência da vida trouxe essa integração subtil ao espaço e foi contribuindo para que se tornasse vivo. Por outro lado, grande parte das evoluções relacionais, tais como os sentidos, não são meros meios de representação de facetas do mundo, apenas com finalidades de sobrevivência. Na realidade, são uma concretização particular do que já existe no sentir vazio da integração da vida, que vai agir no mundo. Por exemplo, a vida animal interage com o que chamamos de radiações e gera a resolução que é a luz e a visão. Sem vida não há luz, som, etc. Generalizando, diríamos que, em termos subtis, a experiência, o sentir, tal como a construção do significado, estão a agir no mundo e a criar as condições para a consciência se manifestar.

Portanto, a natureza do ser é a relação e esta implica tudo, nomeadamente que os nossos modos de sentir, de ver, de ouvir, etc. sempre estiveram a agir no mundo e a mobilizar as leis mais profundas do universo. Apesar de ser o mais antigo, ainda estamos no início deste sentido da vida, enquanto sentir ou dar conta que, na sua autenticidade, transforma o real. Assim, conforme se aprofundar o insight mundial e se apurar a visão da não dualidade, iremos torná-lo no aspeto principal e daí virão todas as soluções…  

Os posts do Blog partem de alguns destes temas, se pretender ser notificado dos mesmos e/ou sugerir algum, por favor contacte-me.

 

O mesmo para o caso de ter alguma dúvida, esteja à vontade... 

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